Fiz, recentemente, visita a uma amiga encarnada, acolitada de algumas colaboradoras de nosso campo de ação, dos que somos livres da matéria mais densa.

Jouanine jazia exausta. Crises de depressão permutavam-se com quadros de reação alérgica ou infecciosa. Dores físicas lhe eram companheiras de rotina. Por fora, obviamente, nunca ou quase nunca demonstrava nada disso – as atividades com o público permaneciam inalteráveis: o sorriso fácil, as falas de elucidação, o esforço sincero de parecer comum e evitar culto à sua pessoa, portadora de padrão evolutivo visivelmente raro para a Terra da atualidade (para quem a observe com um mínimo de isenção).

Médium dotada de expressivas faculdades mediúnicas, desceu ao domínio físico de existência para disseminar, em nome de um Conselho de Mestres Espirituais, mensagens de esclarecimento e conforto, perante significativa audiência de encarnados e também de desencarnados, presencialmente ou à distância.

Em plena madureza das forças orgânicas, temia, naquele final de tarde em particular, não lograr meios nem tempo para completar a Obra que lhe fora confiada por Desígnio Divinal, em virtude de se sentir, com frequência, durante o mais de quarto de século que já dedicara ao serviço da multidão, à beira do colapso físico ou psicológico. Sempre se levantava dos quadros de depauperamento, renovando compromisso com o Ideal a que se devota. Todavia, temia realmente não alcançar a conclusão integral das seriíssimas incumbências que lhe haviam sido delegadas.

Poderia me comunicar à distância com ela, mas, para lhe transmitir maior vigor, enquanto a confortava, postei-me a seu lado. Aproximando meu rosto do tão amado semblante da filha de tantos séculos, sussurrei-lhe à acústica mediúnica, enquanto me fazia perceptível por sua psicovidência:

– Jouanine, minha tão amada filha do Coração… Você vai ser coroada de êxito em seus nobres desideratos de servir ao bem comum, na medida máxima de suas possibilidades evolutivas presentes. Tranquilize-se. A incompreensão da massa humana que a ouve, a quem você apresenta ideias e propostas de atitude tão à frente do seu tempo, pode, de fato causar-lhe quedas do tônus vital e mesmo mental. Mas não subestime sua condição de alma envelhecida na trajetória evolucionária. Você suportou, nessas últimas três décadas, momentos muito piores. A descompensação psicológica que sofre naturalmente trar-lhe-ia instantes de dor mais aguda. No entanto, Autoridades Celestes a veem e a sustentam de Mais Alto. Notam sua perseverança em condições extraordinárias de dificuldade, percebem o quanto faz bem a tanta gente, ano sobre ano, e, é claro, não a relegarão a desamparo!…

Jouanine vertia discretos filetes de lágrimas, quando terminei minha fala de conforto, que captava com a clareza de uma conversação entre pessoas numa mesma dimensão de vida – entre dois encarnados, por exemplo. Nosso diálogo se estendeu por mais algum tempo, após o trecho acima registrado, tendo eu a oportunidade de tecer comentários sobre temas que não caberiam ser trazidos a lume.

Concluída, de fato, nossa conversação psíquica, a médium devotada ergueu o corpo físico alquebrado da cadeira em que se encontrava, e encetou preparativos para uma nova aparição pública, ferindo sua propensão maior ao recato e quase à reclusão, ocasião essa em que nos canalizaria orientações para inumeráveis ouvintes.

Seguimo-la na entrada do salão apinhado de gente interessada no assunto espiritual. Respeito de muitos, curiosidade de outros, suspeita de alguns. Próxima do púlpito, ouvi (e Jouanine igualmente), quando uma senhora parlamentava consigo, em solilóquio sem palavras:

– Lá vai a privilegiada… a queridinha dos Guias. Vamos ver se as falas dela não me ferem os brios novamente. Não sei por quanto tempo mais aguentarei essas ofensas sob a capa de iniciativas de educação e despertar da consciência… Tenho prestado a homenagem de minha presença a ela, há muito tempo, como se lhe fosse tiete. A situação vai se tornando insuportável. Estou na iminência do ponto de saturação…

Jouanine, que no momento não me via, mas me percebia a presença, fez-me súplica silenciosa de ajuda. Não pretendia agastar-se com a hostilidade gratuita da irmã em humanidade menos acordada para a Realidade Espiritual, nem alterar o discurso para a plateia, em função dos problemas da antiga assistente de suas preleções. Em resposta, disse mentalmente à medianeira:

– Hoje, aproveite parcialmente o caso da irmã perturbada, transformando-o em lição para todos. Vamos dar à nossa antiga beneficiária mais uma oportunidade de choque de consciência. Aguardemos em Deus que ela saiba valorizar e aproveitar o ensejo, para que não tenha que facear provações bem mais severas que as que atualmente padece, e só receber esclarecimento equivalente ao que lhe ofereceremos agora, quando já estiver desencarnada, sem chances de corrigir rotas de pensamento, sentimento e destino, a não ser numa longínqua reencarnação futura…

Jouanine tomou a tribuna, pediu menos luz no ambiente, imergiu em transe profundo e recebeu-me a personalidade, mais intensa e completamente. Palestramos juntas, mais eu que ela, que, entretanto, consciente durante todo o processo mediúnico ostensivo, sugeria abordagens e dialogava comigo sobre os temas ventilados, em meio a um parlamento de outros Orientadores espirituais que alvitravam ideias, metáforas, linhas de raciocínio, argumentos e métodos de exposição mais eficazes para cada tópico desdobrado nos 90min de prédica, escolhidos no momento da conferência, a partir de indagações que nos eram feitas, em tempo real, pelos encarnados, diante dos demais componentes da audiência.

Jouanine estava esgotada. Autorizei-a a voltar para casa de imediato, ao fim da conferência mediúnica. Contudo, nossa porta-voz me perguntou, com seriedade:

– O melhor, porém, seria eu ficar e cumprimentar os integrantes da plateia que desejem?

Minha resposta foi afirmativa. Mobilizamos, então, ato contínuo, uma equipe adicional de suporte energético à aplicada amiga encarnada e a supervisionamos na tarefa, auxiliando-lhe no modo de se portar com cada pessoa que lhe apertou as mãos. Algumas, mais sensíveis, intuindo-lhe as funções elevadas e sagradas, beijavam-lhe a destra ou ambas as mãos, para grande constrangimento de Jouanine, que nem sempre conseguia retribuir o gesto de respeito.

Com 3 horas de sono incompletas, e várias horas de grave e delicado trabalho ante a turba amiúde ignara e ingrata, a intermediária recolheu-se ao leito para repousar. Dormiria 2h30min, antes de se levantar e tornar à faina sacrificial a benefício de tantos, nesta e nas gerações seguintes…

Que Jouanine receba nosso preito de gratidão, preocupação e promessa do cuidado possível que pudermos lhe ofertar, no sentido de tornar mais suave a árdua (embora gloriosa) jornada de serviço ao bem comum, de libertação de incontáveis corações das garras despedaçadoras do preconceito, de fomentação da felicidade profunda e duradoura em criaturas, aos milhões, que sequer nutriam mais esperança de que algum dia pudessem vir a ser, ainda que parcialmente, felizes!…

Eugênia-Aspásia (Espírito)
(Psicografado por Benjamin Teixeira de Aguiar, em New Fairfield, Connecticut, EUA, em 23/11/2016).