Se pensa em trabalhar com a mediunidade na Terra, a serviço de Jesus, tenha cuidado de não esperar um cortejo em festa. Aqueles que se candidatam ao serviço de intercâmbio intermundos seguem, amiúde, incompreendidos e sobrecarregados de afazeres, responsabilidades e cobranças, ininterruptamente.

Com o dever de levar a felicidade a todos, poucos lhe notarão o cansaço por detrás do sorriso, esmaecido, desbotado. Muitos, porém, perceber-lhe-ão as mais sutis falhas, catando-lhe todos os deslizes e equívocos, ávidos de apontá-lo em contradição. Talvez terão esquecido que ainda pertence à condição humana, ainda que esteja assumindo função quase sobre-humana.

Muitas vezes, seguirá dando o que não tem, oferecendo alegria em meio a fortes provações. Não notarão isso, mais uma vez, é claro, porque suporão que quem convive com os Mentores do Além não tem problemas, esquecidos de que quem é sensível o suficiente para perceber os guias espirituais, é, antes, para embeber-se de toda sorte de energias, vibrações e impressões mentais negativas daqueles mesmos que o buscam e de tantos quanto, de perto ou à distância, emitem pensamentos e sentimentos de dúvida, suspeita, medo, angústia, ódio ou desprezo.

Por fim, e principalmente, carregará o ideal torturado, irrealizado, porque se cobrará e será cobrado no que não lhe corresponderá, quase sempre, à verdadeira natureza da mediunidade, por ignorância ou má-fé dos críticos contumazes. Quererá dar informes precisos, qual um telefone, e lhe exigirão provas contundentes da imortalidade por seu intermédio, como se fora uma máquina e não um intérprete, toldado pelo manto de carne do cérebro físico, que constitui um grosso véu a empanar as percepções psíquicas. E ainda que possa aqui ou ali dar sinais inequívocos de vida além-túmulo, a oscilação típica à fenomenologia não lhe permitirá controlar como, quando, nem com quem esses momentos de excelência psíquica acontecerão.

Mediunidade é obra de sacrifício pessoal, em prol da felicidade coletiva. Traz felicidade a quem lhe encabeça a iniciativa, mas o preço em renúncias ocultas e esforços contínuos no trabalho que quase ninguém quer e abandona como humanamente inexequível, é, de fato, gigantesco.

Belíssima a sua intenção de seguir os passos dos Grandes Mensageiros do Alto, de todos os tempos. Se realmente lhe inspira o ideal e as melhores motivações de servir ao bem comum, não tema: Almas de escol da Vida Maior ampara-lo-ão em cada gesto de seu empenho heroico. Mas não espere facilidades. Mediunidade Educada, aos moldes do Espiritismo, é obra de vanguarda na Terra ainda espiritualmente primitiva. Conte com tropeços, com falhas, com quedas, e, recorde-se de Jesus pregado à Cruz, no suplício do conflito, suspenso entre o Céu e a Terra, e terá uma noção clara do que seja ser um intermediário entre as duas Dimensões de Vida.

E, aconteça o que acontecer, não se esqueça da gravíssima responsabilidade que está afeta àqueles que se candidatam à mediunidade religiosa: servirem de porta-vozes da Espiritualidade Superior, onde quer que estejam, estejam com quem estiverem, façam o que estiverem fazendo.
Essa visão lhe dará uma ideia aproximada da responsabilidade e da seriedade do mandato que foi confiado aos que ousaram servir de canais entre o mundo dos vivos no corpo físico e dos ainda mais vivos fora dele.

Gustavo Henrique (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
19 de setembro de 2001