Todos(as) sofremos desilusões. Isso não só é inevitável, mas desejável. Como o Espírito Eugênia-Aspásia costuma lembrar, vamos perdendo véus de ilusões – a própria palavra “desilusão” o indica – e nos aproximando de camadas mais profundas e consistentes da realidade. Vale a pena nos rememorarmos da máxima que Nosso Mestre e Senhor Jesus nos legou sobre o assunto: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres”¹.

Padeci, como qualquer pessoa, manobras de desprezo e rejeição vida afora, ainda mais por ser aberto à fraternidade, num mundo de sombras. O que acontece, todavia, com indivíduos que, honestamente, sejam avessos a jogos de manipulação e, ao mesmo tempo, seguros de si e do que querem, é que não aceitamos retribuições mesquinhas pelo melhor que oferecemos de nossas almas, porque conhecemos o próprio valor e principalmente o Valor de Quem e d’Aquilo que representamos.

Muitos(as), pelo mecanismo de autodefesa, se fecham a relacionamentos, homenageando seus(suas) agressores(as). Não notam que assim penalizam a si próprios(as), rendendo-se às consequências do mau comportamento alheio. Lamentavelmente, essa reação é bastante comum entre gente de boa índole que foi maltratada e descompensada em seus gestos sinceros de bem-querer, a começar dos dedicados a familiares, mas se estendendo para os universos amical e romântico.

No meu caso, em particular, desenvolvi, no correr dos anos, uma tendência paradoxal, que percebo ser estimulada pelos(as) Mestres(as) Espirituais: mantenho-me afetuoso com meus semelhantes, mas extremamente seletivo com relação a vínculos íntimos de todas as naturezas – inclinação essa acentuada pela falta de tempo, na condição de figura pública, e, mais ainda, pelo meu perfil de semirrecluso, devotado integralmente aos Seres e à Causa a que sirvo.

Alguns(umas) incautos(as) não enxergam que amiúde são foco de exercício de caridade e indulgência por parte de espíritos mais amadurecidos e assumem a postura infelizmente muito frequente, no contexto do padrão evolutivo médio da Terra, de se sentirem com o “poder na mão” para “esnobarem” corações.

Essa dinâmica psicológica constitui uma trágica ironia, dentro da perfeita orquestração da Divina Sabedoria. É que a conduta dos(as) que fazem pouco caso do essencial nos relacionamentos interpessoais – o afeto genuíno –, além de infantil e perversa, é basicamente irracional e suicida, porquanto, por princípio, quem detém o verdadeiro poder é quem ama, não quem dá as costas a uma fonte donde jorre o amor legítimo, numa cultura tão emocionalmente árida e ácida como a nossa.

E, pela indefectível Lei do Retorno, essas malfadadas criaturas inexoravelmente atraem outras personalidades em sintonia similar e, não raro, em versões pioradas do que elas mesmas são: viciadas em sedução, dissimulação e desamor, de maneira que todas elas acabam tragadas na direção de um carrossel de contatos e eventos impregnados de picuinhas, maldade e horror, não importando a escala de estratégias de controle ou camuflagens de puro ódio que empreguem.

Em cenários de desequilíbrio de sentimentos, adotei, de forma cada vez mais ampla e pragmática, frente a uma multidão a cuidar e recolhido a uma tarefa que muito demanda de meu espaço mental, uma filosofia de administração criteriosa do meu tempo: sempre que alguém age de modo injusto e ingrato, após uma corrigenda inadiável que eu seja inspirado a fazer, em defesa do Ideal, de mim ou de terceiros, passo naturalmente a dar atenção a outras pessoas.

Tal atitude me parece, inclusive, um dever de consciência, diante de nossa humanidade tão carente de amizade genuína, com tantas almas claudicantes e desnorteadas, à míngua de qualquer côdea do pão fundamental do Espírito e do Coração – o Amor, que é Deus, nos dizeres do Apóstolo João² –, para não fenecerem às margens das trilhas existenciais.

Benjamin Teixeira de Aguiar
LaGrange, Nova York, EUA
28 de novembro de 2023

1. João 8:32.
2. 1 João 4:8.