Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Não se deixe intoxicar pela lagarta de fogo da própria inconsciência primitiva. No cerne do cérebro, há um réptil oculto – quase que literalmente: o tronco cerebral, também chamado de “cérebro reptiliano”, o cérebro que tínhamos antes de nos convertermos em emocionais mamíferos (com o “cérebro límbico” ou “proto-mamífero”, justaposto sobre e envolvendo o cérebro reptiliano) e um racional e moral ser humano (com o córtex e neo-córtex cerebral sobreposto ao “cérebro límbico”). A instintividade primitiva do soco à queima-roupa; o impulso de vingança, revide e ataque imediato – tudo isso representa a serpente falando dentro do homem.

Em vez disso, tente dar voz e vez de comando, quanto possível, ao anjo na cabine de controles do neo-córtex cerebral. Esse ser sumamente racional, ético e justo está sempre primando pelo melhor, o mais judicioso, o mais consciencioso, o melhor para todos. Não acredite na voz do boi que muge por estar longe do pasto, ou da serpente que tem ímpetos de picar, porque foi pisada. Prefira ser o estrategista pragmático e civilizado do córtex, ou o gênio-anjo do neo-córtex, e estará tomando os melhores rumos para sua vida.

Isso não é fácil, sem dúvidas, porque constitui, inclusive, uma súmula do processo evolutivo. Por vezes, será quase inevitável perceber a serpente rastejando por dentro de si e o mamífero emotivo explodindo ou implodindo em crises afetivas. Mas, quanto estiver ao nosso alcance, devemos trabalhar por dar acesso à cidadania mental, ao ser lúcido e amoroso que dormita em nosso íntimo e que, um dia, no final do processo evolucional, estará no pleno controle de nossa mente, de nossa alma e de nosso destino, tudo focando pelo bem geral que, obviamente, inclui o bem pessoal. E, ainda que os insucessos sejam numerosos e os ganhos ínfimos, neste esforço por fazer crescerem o homem e o anjo e decrescerem a réptil e o mamífero dentro de si, qualquer conquista, por mais aparentemente insignificante, sempre redundará em grandes ganhos de bem estar, auto-domínio e sucesso pessoal, em todos os sentidos.

(Texto recebido em 12 de dezembro de 2004.)