Paris, 1830, 27 de novembro. Catarina Labourré recebe a visita da “Virgem Santíssima”.  Inocente, em sua pueril pureza espiritual, acompanha Maria, na oração meditada do rosário, trazendo Ela um terço à mão. No instante em que a santa francesa proferia o “Santa Maria, ‘Mãe’ de Deus”, da famigerada reza católica, a figura impoluta de Maria sorria, condescendente. Santa Catarina, então, em sua ingenuidade de moça do início do século XIX, interpreta, que a Mãe de Jesus orgulhava-se muito daquele título, longe de atinar que o sorriso da “Virgem” representava uma reação suave ao absurdo da assertiva, já que o Criador, por Sua própria Natureza, sendo Incriado, Origem de tudo, não poderia jamais ter genitora, como revela o mais elementar princípio de lógica.

Por outro lado, o conceito de virgem suscita, até hoje, polêmicas infundadas e infrutíferas. O que importa se considere, além dos aspectos psicológicos-simbólicos-arquetípicos é que a pureza de sentimentos de Maria, fazia-A canal perfeito da Vontade Divina, a ponto de o Representante Máximo da Verdade para o mundo terrestre encarnar por Ela. Outro campo de estudo exegético é o provocado ao nos recordarmos que “Virgem”, em culturas primitivas, significava – como dissemos ao começo deste tomo – mulher auto-suficiente, autônoma, senhora de si e, portanto, sem submissão a homens, quaisquer que fossem. Foi o patriarcalismo ocidental, sobretudo na Roma dos Césares, em sua preocupação com a transmissão patrilinear de patrimônio familiar, que gerou o excesso de zelo em torno da moral e da conduta sexual femininas, para que a garantia de filiação paterna pudesse existir, numa época sem exames de DNA. 

A idéia de concepção “imaculada” segue este caminho dos conceitos revolucionários para o tempo de sua revelação. Em 1858, quando aparece em Lourdes, a uma menina simples, iletrada (*1), a Mãe Sagrada expende o conceito complexo da “imaculada conceição”, criando celeuma entre teólogos, já que Maria não poderia, conforme a doutrina canônica vigente de então, ter tido uma concepção imaculada, mas apenas Jesus, Seu filho “divino”. A grande verdade, entrementes, é que não só Maria e Jesus foram imaculados em sua concepção. Todos o fomos, em nossa origem como espíritos imortais, criados “simples e ignorantes” (como ínsito em “O Livro dos Espíritos”), tomando rumos equivocados, posteriormente, à medida que fizemos mau uso de nosso livre-arbítrio, ao alcançarmos o nível humano de evolução, em que as atribuições de discernimento e liberdade passam a existir. Da mesma forma, foi o próprio Jesus quem, nos textos de Mateus e João, afirma que todos nós somos deuses (e deusas) também, e não apenas Ele.

Maria aparece em plena revolução de 1830, no ápice do materialismo positivista, em 1858 (estas duas em França), e em meio a comoções gerais pela carnificina surpreendente da primeira conflagração mundial, em 1917, e, mais uma vez, através de outra menina simples, desta fez uma portuguesa (*2), quando, através do idioma de Camões, promete ao mundo, de modo magnificamente confortador, como já citamos nesta obra, no capítulo 1: 

“Por fim, meu imaculado coração triunfará”.

Curioso que não se saiba de médiuns ultimamente, vendo ou contactando diretamente Jesus, mas, há mais de duzentos anos, Maria aparece em todos os lugarejos mais simples da Terra, tocando corações e modificando a face do planeta, paulatinamente, como chegamos a mencionar, “an passan” (de passagem, rapidamente), também no capítulo primeiro. 

Obviamente que nem todas as aparições imputadas a Maria são d’Ela pessoalmente (*3). Mas o fenômeno na mente popular dá uma idéia de como o inconsciente coletivo grita, desesperado, pela compensação e integração do Feminino Divino, que venha suavizar a selvageria genocida dos excessos masculinos de nossa civilização hodierna.

Mais recentemente (1981), no ápice dos horrores da Guerra Fria, na paupérrima Iugoslávia (não por acaso dentro do regime totalitário de ateísmo oficial), seis crianças (alguns já adolescentes), começam a ver Quem seria, mais uma vez, a Mãe de Jesus. O pedido de oração e “conversão dos pecadores” continua, fazendo a Virgem uso dos limitados recursos mentais dos seus receptores humanos mirins, de fato, com graves interpolações e distorções inconscientes de texto.

No entanto, apesar desta ressalva, destrinchemos esta mensagem básica, que, por sinal, foi dita várias vezes pela Virgem Maior, através de seus outros médiuns mais conhecidos. Em grego, nos textos originais do evangelho, a palavra que foi traduzida como “conversão” era “metanouus” ou, em português culto: metanóia, que significa transmentalização, um salto no processo de consciência, uma alteração substancial para melhor do padrão de idéias, valores, prioridades e sentimentos de um indivíduo. E, quanto a “pecadores”, relevante estar-se cônscio de que o verbete “pecado”, em seu estudo etimológico mais detido, vai revelar uma “falha de alvo”. Assim, pode-se dizer que todos somos pecadores, por sermos seres imperfeitos, e, destarte, a todo momento, sem nem sequer nos darmos conta, estarmos cometendo falhas de avaliação e de conduta, por conseguinte, embora amiúde de modo muito sutil. 

Precisamos, assim, como pedido por Maria, desde o início do século XIX, alterar o padrão de nossas mentes – o que nesta obra é reforçado, de modo mais enfático, porque mais minudenciado e explicado para a logística ocidental contemporânea.

Maria afirmou, em Fátima, que uma guerra maior viria, após aquela que estava para terminar, e, de fato, a segunda grande guerra mostrou-se mais horrenda que a primeira, deixando perplexos humanistas e analistas políticos do mundo inteiro, pela capacidade à barbárie de homens ditos civilizados. Disse ainda mais que a Rússia seria tomada pelas forças do Mal, mas que, por fim, a Rússia seria “convertertida”, em clara alusão não só à Revolução Russa, com seu ateísmo oficial, como ao desmanche da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1991. Afirmou, ‘inda mais, que se os homens mesmo com estes avisos dramáticos, não se “convertessem”, um cataclismo ainda maior poderia acontecer mais tarde. 

Este “mais tarde” chegou – é o momento presente. A Terceira Guerra está a caminho ou em curso, conforme se deseje tomar uma ou outra ótica do fenômeno histórico que agora vivemos (*4). Maria vai vencer, como Representante Máxima de Deus para o mundo, como nos prometeu. E disse, por meio dos médiuns inocentes do passado, que, quando “chegasse a hora”, daria um aviso vindo dos céus… Por isso, com o lançamento desta obra, começaremos, anualmente, sob ordem d’Ela mesma, a realizar um evento anual pela televisão, em rede nacional,  inicialmente apenas no Brasil, para que milhões de mentes possam se congregar no esforço oracional magnífico de salvar nossa civilização e o patrimônio inapreciável, genético, biológico, cultural, civilizacional da espécie humana sobre o orbe, que tem propiciado o processo evolutivo de bilhões de criaturas, há tantos milênios, e que assim continuará, por ainda muitos outros. 

O Cristo disse que voltaria, no “final dos tempos”, e a tradição de espera por Sua Segunda Volta, ou, d’outra forma, pela chegada do Paráclito, o Consolador prometido, tem seu foco nos dias que presenciamos. Ele está voltando, sem ser reconhecido, por diversos movimentos espirituais, que tomam a feição coletiva que Jesus gostaria que adquirisse essa nova onda de amadurecimento planetário, pois queria que cada um e todos se tornassem como Ele. Assim, vemos a volta do Cristo no espiritismo kardecista, no movimento de conscientização ecológica, no norte-americano Nova-Era, na comunidade islâmica Ba-hai, entre outros, e até mesmo na revivescência do “Espírito Santo”, tanto no movimento carismático católico, como no das igrejas neo-pentecostais, já que, na exegese da metáfora cifrada do “Santo Espírito”, encontraremos a codificada, porque proibitiva para uma civilização neuroticamente machista, presença de Mãe. Portanto, temos, dentro do dogma-arquétipo-ocidental-cristão da “Santíssima Trindade”, Pai, Filho e… : Mãe!… Seria como todos completaríamos esta tríade divina, não tivéssemos a mente viciada no condicionamento cultural, porque é o que faz, simbólica e obviamente, a complementação-união nesta e desta tríade. Ainda voltando à questão do retorno “coletivo” do Cristo, podemos fazer analogia ao “princípio da complementaridade onda-partícula”, cunhado por Niels Bohr (o ilustre pai da Escola de Compenhague), e ao paradigma holográfico, que reza que todos as dimensões da realidade obedecem ao mesmo princípio organizador, do micro ao macro-cosmo, e, então, com a conjugação de ambos, podemos chegar à ilação de que, assim como a matéria é, concomitantemente, corpuscular e ondulatória, igualmente o Cristo teria vindo particularizado-masculino, como Jesus, há dois mil anos,  e que, para ser completo, teria que voltar, coletivo-feminino, como nos movimentos espirituais da atualidade. Devemos considerar que todos, de algum modo, representam a Segunda Vinda do Cristo, já que todo símbolo, como reza a sinologia, a mitologia e a psicologia profunda, tem múltiplas dimensões de significado, todas verdadeiras, em certa medida. Mas, como se trata de “Feminino Divino”, e de “vivência coletiva”, nenhum destes movimentos representa melhor este retorno do Cristo que agora acontece, como o Cristo Maria, o Cristo-Mãe, o Cristo Nossa Senhora Redentora… 

Assim, perto do epílogo desta obra, recordemos mais uma vez Jesus, do alto da Cruz, “desesperado”, clamando pelo o Pai que o “abandonara”… Somos todos nós ali retratados, alegoricamente, nos paroxismos de nossa desesperação hodierna. Mas, como Ele, que tinha a Seus pés a Mãe Sacrossanta, inabalável, de pé, com isso consagrando a humanidade inteira a Ela, na condição de filhos adotivos Seus, representados todos nós na figura de João Evangelista (*5), busquemos n’Ela, como exorado por Jesus, o socorro e a salvação dos cristãos “últimos dias”.

Una-se a nós, amigo(a), todos os anos, no dia 24 de julho, a noite espiritual que constituirá a véspera do dia 25 de julho, que, doravante, estará consagrada a Ela, como o Natal de Maria Cristo! Um Natal sem presentes materiais e sem ostentações outras, como manjares excessivos e extravagâncias alcoólicas, sem velhinhos de barbas brancas nem trenós alados, para distrair crianças e adultos e afastá-los espiritualmente do propósito real do Natal, que é fazer despertar o espírito crístico dentro de cada um de nós. Um Natal de verdadeiro amor, de oração e confraternização, preservando e reforçando o lado positivo e espiritual, o verdadeiro significado da vida do Cristo ao mundo, assim favorecendo um verdadeiro nascimento espiritual do Divino nos corações de todos. Um Natal como Jesus sempre quis e como Maria, obviamente, também quer… 

Não adianta lutarmos frontalmente contra tradições constituídas. Por isto, começamos agora, no período de inverno do Hemisfério Sul e verão do Hemisfério Norte, um novo Natal, sem orgias alimentares, nem marketing consumista despropositado, uma nova tradição, um novo ideal, paradoxalmente velho como o cristianismo, porque remontando ao pensamento original de Jesus, de pureza, desapego e amor universal entre os homens. Salve Jesus, salve Cristo, salve Maria Cristo!…

(*1) Eugênia alude, assim, de modo modesto, a ela mesma, em sua última reencarnação, na condição de Bernadette Soubirrous, a vidente santa de Lourdes.

(*2) Lúcia dos Santos, recentemente desencarnada, aos 98 anos de idade. Quatro dias antes de seu desencarne, Eugênia revelou a mim e ao grupo íntimo de meus amigos da reunião mediúnica fechada, que dirijo semanalmente, que, como um sinal de término de ciclo histórico e início da Era Maria Cristo, partiriam do plano material de vida, por aqueles dias, a “Irmã Lúcia”, e, em seguida, seu “consorte espiritual”, nos dizeres de Eugênia, o Papa João Paulo II. De fato, poucas semanas depois, 14 anos mais novo que a monja vidente luso-fônica, desencarnava o Papa mais popular de todos os tempos, não por acaso devoto de Maria de Fátima, e profundamente ligado, pelos laços do espírito, a Lúcia, que ele mesmo afirmava ser sua confidente e conselheira. No ano do início do Natal de Maria Cristo, com a publicação do livro Maria Cristo, deixavam o mundo físico os maiores representantes vivos da Mãe Santíssima.

(*3) Estudiosos do assunto, os “mariólogos” chegaram a calcular, há aproximadamente 20 anos, que haveria 400 aparições simultâneas de Maria. Ou seja: este número pode hoje ser muito maior e, com toda certeza, a esmagadora maioria corresponde a processos psíquicos-internos, constituindo um contato com o Feminino-Divino, ou mediúnicos-imprecisos, como quando alguém vê uma freira desencarnada e supõe tratar-se da Virgem Santíssima, como num caso conhecido do Nordeste brasileiro, do final do século passado.

(*4) Um período histórico só começa a ser bem compreendido, quando observado de perspectiva, com o devido distanciamento dos agentes do tal processo, no futuro. Há autores que, na atualidade, consideram que a 3ª Guerra começou com o “11-de-Setembro”. Outros historiadores e analistas políticos preferem visão mais moderada.

(*5) João, 19:26-27.

(Notas do Médium)