(Texto redigido quando o médium tinha 22 anos.)

por Benjamin Teixeira.

Para aqueles que sabem crer e esperar, sem jamais se render às forças paralisantes do medo e do desânimo, da descrença e da desesperança, haverá sempre um renascer.

Pouco importa que a abóboda do firmamento esteja toldada por densas trevas: chega sempre o momento de amanhecer.

Pouco significa que uma existência se apresente provisoriamente marcada pela tristeza, pela carência, pela dúvida e pela adversidade: desde que haja manutenção firme de fidelidade ao ideal e aos propósitos superiores inspirados pelo mais Alto, misteriosos e potentes elementos cósmicos interferem em favor do angustiado.

Não permita que as lágrimas vertidas na jornada lhe afoguem os sorrisos. Não admita que as dores lancinantes dos desafios cruciais da existência tornem-no amargo, esquivo e indiferente. Permaneça amável sempre e cada vez mais, por mais que tudo pareça querer asfixiar seus impulsos nobres. Atravessar pântanos e desertos do destino, sem se deixar enlamear nos recessos do pensamento, nem se ressecar nos refolhos do sentimento, é uma proeza difícil, mas não irrealizável; heróica, mas sempre ao alcance de quem se disponha a doar sua vida em prol de elevados objetivos existenciais.

Se, a despeito de toda a tempestade, você perseverar de pé, confiante e altivo: cambaleando, mas sem perder o equilíbrio; tiritando de frio, mas pulando para não ceder ao enregelamento geral, você ressurgirá, esteja certa, alma amiga, das cinzas de suas desilusões, de suas amarguras ocultas e de suas aparentes derrotas, tal qual a fênix mitológica, vitoriosa sobre a morte da falência momentânea.

Se as chuvas do fel da calúnia ou do desestímulo despencam sobre sua cabeça, reaja e acenda o luzeiro do otimismo.

Se a ingratidão e a carência afetiva lhe fazem minguar as energias, recarregue-se na usina da prece, e prossiga distribuindo afeto e simpatia, estima e amor, indistinta e incondicionalmente.

Se desgraças familiares ou financeiras arrastam-no para o abismo do desespero, reerga-se e escale a montanha da queda com a picareta do bom senso, mas não cesse de disseminar alegria e esperança onde estiver.

Nunca entregue as armas ao inimigo: isto é tola precipitação. Se no meio do combate desistimos de fazer uso da defesa e nos omitimos ao ataque, a derrota, que era provável, será certa.

Lute até o fim, ainda que, aparentemente, não tenha chances de vitória. Suprimentos imprevisíveis de forças ou acontecimentos fortuitos poderão favorecê-lo de inopino. E mesmo que não – ensinam-nos os mestres em artes marciais –, o simples fato de se lutar com bravura, independentemente das reais condições do lutador, confere já uma vantagem, pelos efeitos psicológicos de temor ou intimidação que se geram no adversário.

“Dê a volta por cima.” “Não se deixe intimidar.” “Quem espera, sempre alcança.” “A quem trabalha, Deus ajuda.” “Ajuda-te e o céu te ajudará.” “Nunca renda os pontos.” Prossiga no seu roteiro de bem, ainda que andando sobre brasas “vivas”, e o reforço providencial não faltará.

Retome o fio de novelo de “Ariadne” de seus ideais despedaçados e reconstrua os seus sonhos de ventura em nível mais alto. Sofrer é inevitável: sofra para transcender, ao invés de sofrer para se frustrar. Aproveite a dor da desilusão para realmente se libertar da ilusão, sem fantasias ou pieguismos infrutíferos, e sim marchando, racional e resoluto, ao sol maior da Verdade.

Não se envolva com os sofismas das paixões recalcadas: não creia em nenhum pretexto que lhe justifique a fuga ao serviço no bem ou à disciplina moral. Aguarde pacientemente que as possibilidades de visão melhorem, antes de tomar qualquer decisão, e verá, à medida que as nuvens da perturbação se dissiparem, o quanto eram falaciosas as desculpas para a deserção.

Os louros da glória são para os que não fogem do campo de batalha. Para os que abandonam as pelejas em meio, só há a pecha ignominiosa da covardia.

E mesmo que você já tenha dado início à debandada, não assuma, para si, antecipadamente, o estigma do fracasso. Volte sobre seus passos, retome as tarefas largadas ao meio e retorne à pugna com o entusiasmo e a fé de quem estivesse começando. Sempre haverá e será tempo para se recomeçar…

“A perseverança é condição de vitória” e também a base desta, assim como, muitas vezes, até o seu fator determinante. Quantos gênios, detentores de excelentes possibilidades para a consecução do bem comum, têm seus talentos mofando, desperdiçados no anonimato e na inutilidade, por não acreditarem em seu potencial e, destarte, não persistirem na luta pela realização de seus projetos de vida! E, em contrapartida, quanta mediocridade encarapitada nos galarins do prestígio público, por ser dirigida por temperamentos enérgicos na determinação de insistir, intransigente e incansavelmente, na autopromoção!

O mal dos indivíduos bons é que, infelizmente, por sua natureza normalmente pacata e pacífica, são eles propensos à apatia e pouco inclinados à astúcia combativa. Não sejamos apenas bons, portanto: sejamos ótimos, mas ajamos e realizemos alguma coisa, porque de nada vale uma bondade ou uma capacidade inoperantes. “O inferno está cheio de boas intenções.”

Não desista, amigo, de seus projetos de ventura e realização, se eles realmente estão assentados em nobres princípios, se a sua finalidade maior de vida é o bem coletivo. Para os que se doam a causas humanitárias, haverá sempre socorros providenciais e estímulos abundantes, desde que se não traia a própria consciência. Os que são úteis aos outros, são úteis a Deus.

Não desespere. Renove a sua fé: o Ser Supremo dirige seus passos. Todavia, para tanto, é necessário que você mantenha os olhos abertos para não tropeçar. Os olhos da perspicácia, da sensatez, da prudência, da vigilância. O Senhor lhe mostra o caminho, mas a caminhada é sua.

Não lavre atestado de falência com as cinzas de suas esperanças arruinadas. Seja bravo… seja ousado na fé e na tenacidade… Atire-as (essas cinzas) ao Alto e, esteja convicto: o Ser Todo-Amor fará delas ressurgir, em pleno e magnífico vôo, a fênix do seu ideal… da sua vitória… da sua glória.

(Artigo publicado no extinto Jornal da Manhã – ano VI, nº 1893 –, em 30 de dezembro de 1992.)