Na era das incertezas e de toda sorte de confusão, de saturação de ideias díspares, alternativas conflitantes, caminhos e interpretações discrepantes do mundo, numa era de caos, em que a complexidade e a imprevisibilidade fazem-se notas dominantes do dia a dia, faz-se imprescindível estabelecerem-se critérios fundamentais de segurança, para viabilizar-se a vida.
Sem uma diretriz de objetividade, em meio ao oceano de subjetividades que inunda o cenário da modernidade, impossível viver-se em paz, com equilíbrio e lucidez, e, principalmente: com um mínimo sentido de funcionalidade e pragmatismo.
Na era das incertezas, assim como se tem dito que jovens e crianças precisam de limites claros e educação rígida, para não chafurdarem na lama das comodidades e licenças desmedidas, indispensável que se estenda tal política aos próprios adultos, que devem, de sua parte, esforçar-se por disciplinar a si mesmos, dispensando ajuda externa (que costuma vir em forma de crises e desastres existenciais diversos) e, desse modo, converterem-se em juízes e legisladores severos de si próprios, assim como polícia e direção firme, no rumo de todos os departamentos existenciais.
No atual momento filosófico-cultural de permissividade generalizada, tudo parece não só defensável como desejável. Justifica-se qualquer atitude, amiúde das formas mais desabridamente cínicas, com um total descaso, muitas vezes, à moralidade e à ética. Em nome de um utilitarismo rasteiro e superficial, grosseiro e animalesco, esquecem-se os melhores princípios de espiritualidade, decência e mesmo de cortesia, passando-se a um sistema de convívio social que se aproxima, tragicamente, das mais abomináveis formas de liberação selvática.
Prezado leitor: antes que você se torne um expoente ou um exemplo dessa era de degradação – que antecede um estágio posterior de retorno ao espírito de disciplina e bom senso – faça um esforço, por você mesmo, em determinar, para si, limites de bom senso e moralidade. Ou você o faz, ou a vida fará por você, inapelavelmente, e do modo dela: automático, implacável, sob a égide da lei de causa e efeito.
Resumamos todo esse nosso discurso severo, em uma única palavra: disciplina. A disciplina é indiscutivelmente necessária, em todos os ângulos de observação, em qualquer circunstância, iniciativa, empreendimento, época ou cultura humanas. Somente os disciplinados vencem, em qualquer contexto, ainda que não percebam que é ela a base de sua vitória. “Trabalho duro”, como dizem os americanos – não por acaso o povo número 1 atualmente, em quase todas as áreas de atuação humana – é o alicerce para qualquer ordem de sucesso.
Defina, prezado leitor, as áreas do essencial, do inegociável em sua vida, e estabeleça, de modo “religioso”, ou, preferivelmente dizendo: “militar”, disciplinas concernentes à viabilização, manutenção e desenvolvimento dessas áreas. Disciplinas essas que devem ser simples, fáceis de serem não só cumpridas, como monitoradas. Simples e fáceis, porém, no que tange ao seu monitoramento, desdobramento e encaixe, no fluxo do cotidiano, mas não que não exijam esforço e persistência, para serem não só implantadas, mas, principalmente, mantidas.
As suas preces do início da manhã, por exemplo, podem se cristalizar num esquema disciplinar de 15 minutos por dia, assim como as leituras, em um sistema de controle de 30 minutos diários. A hora de ir dormir pode ser meia-noite, e as atividades físicas, definidas semanalmente numa quantidade e extensão de tempo sustentáveis, ainda que modestas.
Não perca o crivo do bom senso, num mar revolto de licenças. Será o equivalente a decretar-se entregue às forças destrutivas do destino. Exija-se retidão e produtividade, equilíbrio e lucidez, em todos os momentos de sua vida, no mínimo inegociável do que considera essencial, para sua paz e bem-estar pessoal. E, feito isso, fique alerta para eventuais surtos de preguiça, racionalização e autossabotagem, provindos do interior de sua própria mente, ainda não harmonizada por inteiro, ou de agentes malévolos externos, que exploram essas suas fraquezas psicológicas para tramar sua perda.
Assim, não aceite pretextos, principalmente os que surgem de momento e exigem atendimento imediato, para fugir de uma linha disciplinar. Sempre prefira o sacrifício de obedecer ao autoditame de ordem, até ter certeza, num outro instante, de maior reflexão e racionalidade, se deve ou não acontecer alguma alteração nos comandos disciplinares. Ou seja: não se trata sequer de questionar o seguimento às disciplinas autoimpostas, mas de alterá-las, porque, enquanto não houverem sido modificadas, devem ser invariavelmente seguidas, com o máximo rigor, ou as forças do caos, da morte e da desgraça terão sempre entrada fácil na polis de sua alma.
Discipline-se hoje, ou desgrace-se amanhã.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia (Espírito)
26 de janeiro de 2004
(*) Apesar de firme na explanação das ideias que transcrevi, à medida que Eugênia mas ditava, a doce mentora não deixou de pontuar toda a fala com delicadeza e sorrisos discretos, aqui e ali, bem ajustados no contexto do que dizia. Isso porque, mesmo sendo doce e amável, em medidas invulgares, Eugênia mantém sempre seu traço de sabedoria e firmeza típicas aos líderes genuínos. Sem alterar a voz ou a serenidade de seu semblante fala dos assuntos mais duros, com severidade e bonomia concomitantemente, sem as condescendências perniciosas que se costumam associar à bondade materna.
(Nota do Médium)