1994, 22 de janeiro. Foi a data escolhida pela própria Eugenia, guia espiritual do projeto Salto Quântico, para o início da tarefa de divulgação das ideias espirituais pela televisão. Nossa! Como o tempo passou rápido! Naquela manhã de sábado, estávamos eu, minha mãe, minhas irmãs e quatro amigas íntimas sentados em frente ao televisor, para acompanhar o primeiro episódio − um dos raros gravados até então: de lá para cá, a transmissão ao vivo se tornou marca registrada do programa, o que já começaria a acontecer na semana seguinte, inclusive com o bloco de perguntas e respostas, primeiramente como um apêndice final do programa, mas logo ganhando destaque, até se tornar, em pouco mais de um ano, o núcleo central de sua estrutura. As ilustrações com trechos de filmes (hoje com seleção do querido amigo […]) já aconteceram nos primeiros programas, mas a prece final começaria a existir somente a partir do dia 10 de setembro daquele mesmo ano.

“Ainda que saia do ar logo em seguida, já foi um grande feito ter posto, em algum tempo, um programa no ar.” − foi o que me disse, com intenção de ser encorajadora, uma das amigas seletas que estavam presentes, e que havia chegado à minha casa com um adereço na bolsa que era um verdadeiro “escândalo” de luxo, para a época: um telefone celular. “Benjamin perdeu o senso” − revelaram-me vários outros conhecidos terem pensado, por aqueles dias. Imagine se soubessem que, 7 anos antes, aos 16 de idade, já sabia (sabia e não propriamente tinha certeza) que o programa seria transmitido em rede nacional como agora.

Lançar um programa de televisão explicitamente espírita, juntando centavos aqui e ali para levantar fundos para tanto, numa Aracaju provinciana e católica como aquela, já hoje bem diferente e distante, na condição, atualmente, de semi-metrópole com ares cosmopolitas, foi, talvez, um ato de desatino, não fora minha total convicção de que reencarnara para aquele específico propósito. Tinha então 23 anos recém-completados e somente hoje é que vejo o quão era jovem para a ordem de iniciativa que estava encabeçando. Não creio seja possível ninguém com menos de 40, preferivelmente: menos de 50, possuir estofo psicológico e moral adequado para assumir uma responsabilidade como a que tive que assumir, desde antes daqueles dias, ao publicar, ainda aos 19, meu primeiro artigo de divulgação das ideias espíritas. O “karma” me compelia e abria-me portas, “miraculosamente” e eu era arrastado a fazer, apesar da sensação de vertigem emocional que me acometia ante as implicações seriíssimas de ser um representante das ideias espíritas para toda uma coletividade. Tive sérias crises de depressão, a cada vez que, ao sair à rua, era reconhecido por telespectadores anônimos. O fato de estar “bulindo” com a consciência de tanta gente, em assunto tão grave, de fato, dava-me a sensação de queda livre moral, tamanha a responsabilidade de que me sentia investido. Cheguei, por um tempo (mais de um ano) a ficar quase-misantropo, próximo de um eremita urbano, fugindo de toda sorte de contato humano, a não ser o estritamente necessário ao desincumbir de minhas atividades com a divulgação do Espiritismo, e me enfurnava em meu quarto (morava com meus pais, à época), transformando-o em uma verdadeira toca de caos e tristeza…

Mas… voltando ao dia em que tudo começou… (ao menos para a televisão). Recolhi-me para deitar naquele longínquo 22 de janeiro de uma década atrás, e, como era de costume à época, Eugênia apareceu-me, para fazer uma avaliação do dia comigo, e apresentar-me alguns apontamentos de guia espiritual.

– Hoje, temos uma visita ilustre − disse-me, com um sorriso enigmático e matreiro (que lhe não é típico), enquanto fazia uma mesura em direção à porta de meu quarto, que se converteu, ato contínuo, numa “explosão de luz”.

Vi, então, estupefacto, sair do centro da luminosidade intensa, a figura venerável de Adolfo Bezerra de Menezes, a alma de elevadíssima envergadura evolutiva, um dos maiores expoentes da Espiritualidade, na responsabilidade por todos os projetos de divulgação do Espiritismo no plano físico.

– Dr. Bezerra! O senhor vindo me visitar! − exclamei, incrédulo e, ao mesmo tempo, encantado com a cena.

– Não − respondeu-me, incontinenti, firme e lacónico − vim visitar aquele que é responsável pelo trabalho de divulgação do Espiritismo pela TV.

Aquela forte entonação anti-vaidade do “médico dos pobres” fez-me abaixar a cabeça, envergonhado, apesar do momento de grande exultação. Continuou, porém, o “Apóstolo do Brasil”:

– E terá você sempre meu apoio e proteção, enquanto der continuidade a essa realização.

O Projeto Salto Quântico se expandiu muito, de lá para cá. Mas aquele, sem dúvida, foi o momento crítico. Os anos de 1994 e 1995 provavelmente terão sido os mais intensos e tormentosos de minha atual existência física. E o programa só se manteve no ar, ainda mais ampliando seu raio de alcance (em 95 foi transmitido em pool com o Estado da Bahia, com a TV Aratu e suas quatro retransmissoras no território baiano), porque, realmente, os espíritos quiseram. Por diversas vezes, nos primeiros meses de exibição do programa, vi-me, na véspera de o programa ir ao ar, à beira da perda do juízo, sob efeito de poderosas obsessões, em medida coletiva, a que não estava acostumado, por então.

Lembro-me de uma noite de sexta-feira, em particular (o programa era veiculado nas manhãs de sábados), em que me sentei no chão do banheiro para chorar, sentindo-me inteiramente derrotado. Naquele tempo, apesar de já trabalhar ostensivamente com a mediunidade, não tinha, nem de longe, as habilidades mediúnicas e a segurança psicológica que hoje porto, para lidar com o mundo “invisível”, por força da experiência. Foi quando pedi, apesar de apor inúmeras reservas à solicitação, por receio de ser ela extemporânea (como de fato era), diante do conselho de todos as autoridades espirituais que endossaram minha atual reencarnação, a suspensão de minha estada na Terra: não estava aguentando mais, disse para eles, antes de completar os meus 24 anos de idade. Não obtive resposta, de imediato, nem comentei nada com quem quer que fosse. Dias depois, uma amiga me procurou:

– Benjamin, minha mãe me disse que viu você diante de uma assembleia de grandes mentores espirituais, e ouvia-os mandar dizer a você que não era sua hora de desencarnar, que você tem ainda muita coisa a fazer.

De fato, eis-me aqui, até hoje, e, se Deus permitir, por mais alguns anos, para dar continuidade a esse trabalho que é uma fonte de bênçãos, primeiramente, para mim mesmo, ao disseminar a esperança de uma nova era, uma nova civilização, de paz e felicidade, a começar pela promessa espetacular da imortalidade!…
Já desde que comecei a desenvolver a mediunidade, mas muito mais intensamente desde que o programa foi ao ar, vivo cada ano com a sensação de que vivi 10, pela extensão e profundidade de aprendizados que o contato com tantas pressões e responsabilidades me propiciaram. Sendo assim, estaria agora, em termos psicológicos, completando um século de existência. E, quando falo nesse número: 100 anos: parecem-me insuficientes para criar uma analogia apropriada da dimensão de mudanças íntimas, de progressos emocionais e morais que sofri nesse tempo transato, em abençoada faina em nome de Deus. De fato, nesses últimos dez anos, cresci como indivíduo, amadureci sentimentos e depurei meu comportamento de um tal modo que posso garantir não ser mais a mesma pessoa. Às vezes, reencontro-me com alguém a quem não vejo há algum tempo (três ou quatro anos) e rio-me por dentro, ao cumprimentá-la, ainda que com um aceno à distância, por imaginar que ela supõe estar cumprimentando aquela pessoa que conheceu por lá, quando já sou outra, substancialmente diferente, para melhor, graças a Deus e ao auxílio dos bons espíritos.

10 anos se passaram… Quantos passarão, até que me despeça do mundo físico, para o início de uma jornada de vivências diferentes, fora do corpo? Estou aqui ainda, todavia, e já tomei juízo o suficiente para não mais pedir, ao menos não com frequência (risos), meu desencarne aos mentores. Cada um está onde está, porque precisa realizar um propósito, cumprir funções, realizar tarefas, concluir o que ficou inacabado em outras vidas, dar andamento ao próprio progresso espiritual, enquanto serve à humanidade, presta socorros, faz-se útil à coletividade de que faz parte. Hoje, posso, sem receio de estar pecando por algum excesso ou alienação, dizer-me feliz, apesar de passar, cotidianamente, por situações difíceis, como é natural, na função que exerço. No passado, tive que começar tudo “na raça”, como se diz no vernáculo, por puro espírito de dever, “contra tudo e contra todos”, porque minha consciência gritava por isso (e não por conta de um desejo egóico, como pensam alguns; não seria possível, na base do sonho egóico, suportar o que suportei). Hoje, posso me dar ao luxo de me dizer um ser humano em paz consigo mesmo e com o mundo, apesar de partes do mundo, aqui ou ali, quererem quebrar as pazes comigo e partes de minha própria mente ainda precisarem de significativos melhoramentos (porto inúmeros defeitos, apesar da reforma moral a que me submeti nos últimos anos). Mas Deus segue adiante, porque apenas tento realizar o que me foi designado, dentro do que me é possível, para minha precária condição evolutiva. E, como disse o apóstolo Paulo, na sua epístola aos Romanos, 8;31: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”

Que Deus abençoe o Salto Quântico e cada um de nossos queridos amigos que acessam o site, leem os livros que recebo psiquicamente, assistem ao programa de TV que aniversaria hoje, frequentam as palestras que profiro, há já 13 anos, ou me procuram pessoalmente, nessa obra dos espíritos que se dá por meu intermédio e de meus amigos colaboradores fiéis, há 16 longos anos, e que, com isso, colocam-se sob a cobertura, a proteção e a orientação dos amáveis e sábios mentores do projeto, em particular nossa encantadora mãe espiritual comum: Eugênia.

Benjamin Teixeira de Aguiar
22 de janeiro de 2004