Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Sei que tem sofrido enormes dificuldades, para a concretização do seu ideal. Ninguém, todavia, disse-lhe que seria fácil. Se fosse fácil não se chamaria ideal: denominá-lo-íamos de real. Obviamente, é preciso estar atento para que os delírios do ego não se interponham entre você e seu projeto de vida, aumentando-o, enfeitando-o com futilidades e inchaços que não correspondem a seu programa encarnatório mas, tão-somente, às fantasias megalomaníacas do personalismo, desviando-o, portanto, do que de fato deve fazer, com perigosas seduções.

Vou hoje lhe sugerir, porém, algo de bem simples, que lhe pode facilitar bastante o alcance de suas metas: ajudar outras pessoas a atingirem as suas. Não falo realização de sonhos apenas no que tange àqueles grandes propósitos de difícil realização, assim como os seus. Aludo àqueles sonhos simples, de visitar a praia, quando se é muito pobre e se mora longe da costa; de fazer uma festa de Natal de tom familiar para crianças carentes, que nunca experienciaram o aconchego de um lar amoroso; a visita fraterna a velhinho abandonado em asilo, pela família inconsciente; o momento de conversa amistosa, com misantropo complicado, esquecido e desprezado por todos.

Às vezes, achamos que vamos ajudar com muito, ou que só poderemos fazer, por nós e pelos outros, gestos grandiosos de fé e caridade. E, amiúde, nas pequenas coisas, é que encontramos a moradia de Deus. A Divina Providência reside nos detalhes, nas nuances diminutas do caminho. Claro que também está nos lances ciclópicos de acontecimento; só que de modo normalmente tão intrincado e profundo, para a capacidade cognitiva humana atual de interpretar eventos, que, mais uma vez, somente nas minúcias do desdobramento das ocorrências é que A perceberemos com nitidez, já que as finalidades maiores do bem, em fatos consequentes frequentemente remotos, dificultam a apreensão do conjunto. Um exemplo bom disso foi a Segunda Grande Guerra, que fez avançar muito a humanidade, em progresso tecnocientífico e moral, nas reações e esforços hercúleos de todos os povos à barbaria que a constituiu. Mas, no momento de sua ocorrência, a vertigem da dor e do desespero era tamanha, que somente nos gestos isolados da solidariedade entre os necessitados, nos campos de concentração ou entre as ruínas dos bombardeios, é que se podia notar a chama viva da esperança e do amor.

Sim, amigo, pense em grande medida, se assim puder, e se assim estiver favorecendo uma conduta mais benemérita em todos os sentidos. Mas jamais se esqueça dos detalhes. No pequeno encontramos o piso para o grande. No insignificante, os alicerces para o grandioso.

Deus não quer que você seja um ás de bondade, realizando obras colossais de amor ao próximo. A Infinita Bondade quer que você comece por si, sendo bom consigo mesmo, sem se cobrar além do que pode dar, e mantendo-se ativo na solidariedade das pequenas medidas, no sorriso, no aperto de mão, na simpatia transbordante, no afeto com todos, no desejo de ser útil, no contínuo esforço por se fazer melhor e tornar um pouco mais humanos os ambientes em que circula.

Agora, deixe-me encerrar, pedindo que levante os olhos e pense sobre o que, agora mesmo, você pode fazer por alguém. Que gesto de amor lhe pode sair das entranhas nesse exato instante? No seu carinho genuíno, em sua fraternidade sincera, esteja certo: Deus estará vazando por você ao mundo, impregnando-o de amor e repletando seus caminhos de felicidade, improvisando graças e maravilhas, onde nem sequer você supunha possível.

(Texto recebido em 14 de dezembro de 2000.)