(Benjamin Teixeira de Aguiar)
– Queridos(as) amigos(as) espirituais, Eugênia em particular, posso fazer algumas perguntas?

(Eugênia-Aspásia) – Claro, meu filho. Sobre o que deseja conversar?1

(BTA) – Sobre aquele caso de (…)2, que pensa em suicídio.

(EA) – Sim, o nosso caro companheiro porta distúrbios emocionais graves, por se ter afastado excessivamente do centro de si mesmo, o que Carl G. Jung denominou de Self, o arquétipo da totalidade. Longe do seu núcleo fundamental de ser e de sua inteireza psicológica, sente uma vertigem indescritivelmente aguda de vazio. A sensação de invencibilidade da problemática, contudo, é de todo ilusória, e ele deve combatê-la ardorosamente. Não se trata de uma fatalidade ou de um impulso irresistível à completa derrocada moral, mas sim de uma exortação a que ele preencha sua alma com conteúdo satisfatório e se alinhe com o eixo de gravidade espiritual da busca de Deus.

(BTA) – Pois é… Ele é ateu e portador de severos sofrimentos, decorrentes de sua homossexualidade, inclusive porque contraiu núpcias, há muitos anos, com uma mulher heterossexual, tendo até filhos desse casamento. Disse-me que desistiu de viver, por estar cansado de tudo.

(EA) – Mas não pode haver, em uma acepção real, “cansaço de tudo”. Figuras de linguagem são um recurso válido para dissecar temas intrincados demais, por meio de alegorias simbólicas, mas não para retratar a realidade. Não devemos confundir subjetividade íntima com fatos objetivos, sob pena de renunciarmos ao bom senso. Ele é um homem inteligente e sabe que essa generalização peca por falta de profundidade. É imprescindível e, em termos funcionais, estrategicamente importante que, em crises existenciais acerbas, apelemos para a face mais racional da mente e adotemos uma perspectiva filosófica mais ampla na interpretação de eventos, situações e pessoas.

O prezado irmão em evolução, ignorando um universo de possibilidades infinitas, está tirando conclusões a partir da ótica de um paradigma desgastado, diríamos mesmo esgotado. Aludimos ao sistema saturado de conduta que ele manteve até a presente data. Não lhe é do perfil psicológico, muito menos de seu caráter, esconder-se da esposa para levar vida dupla, com uma homossexualidade clandestina.

Os tempos são outros. O medo desproporcionalmente grande que o acomete, no que concerne a declarar ou deixar transparecer sua orientação sexual (ainda que sem alarde), provém de um temperamento exacerbadamente mordaz e preconceituoso, que ele precisa superar em caráter de emergência, porquanto exatamente esse traço vicioso e devastador de sua personalidade é que tem se voltado contra suas estruturas psicológicas, esfacelando-as.

Há indivíduos que reencarnam em certas condições constritivas, no que se refere às convenções sociais de dada época e povo, afetas às conveniências do mundo material, a fim de transcenderem barreiras que não lograriam ultrapassar, não fossem as circunstâncias amargas de extrema inibição em que são inseridos.

(BTA) – Há mais alguma coisa a dizer sobre o que está motivando tanta dor e desesperança no sujeito que nos merece a atenção, neste diálogo de reflexão e estudo psicoespiritual?

(EA) – Imaturidade. Almeja ele perpetuar um estado de diversão estroina e de encanto juvenil, nos folguedos afetivos do enamoramento, que não são compatíveis com a idade cronológica de um homem de quase cinquenta anos, sobretudo para quem ostenta, como ele, uma tão aguçada intelectualidade. A questão é que, enquanto alguns setores de seu psiquismo progrediram, outros permaneceram mirrados, hebetados e aprisionados numa eterna adolescência sexual.

Com isso, ao facear o início da decadência da beleza juvenil, percebeu que não mais pode concorrer, com sucesso, no cosmo fútil do gueto gay, em que há a supervalorização da aparência física, em detrimento de todos os demais valores do intelecto e do espírito – como igualmente ocorre entre homens e mulheres heterossexuais frívolos(as), no circuito da moda, em boates de azaração ou em academias de musculação e de culto ao corpo.

Ele próprio pode estar fugindo de reconhecer, num nível consciente, essas motivações menos nobres, mas sabe que elas são reais e muito poderosas em sua psique fixada em uma hipnose de romantismo hollywoodiano que não condiz com sua forma de avaliação crítica da vida, tão ácida e sarcástica para outros assuntos, sobremaneira os sagrados.

(BTA) – Existem tais motivos no caso que estudamos? E, existindo, seriam eles todos conscientes?

(EA) – Prefiro silenciar sobre esse ponto.

(BTA) – Há outras questões mais melindrosas, não mencionadas por nosso irmão em Cristo, a lhe causarem todo esse vórtice de desespero?

(EA) – Sim, há. Mas não nos cabe ventilar, por aqui.

(BTA) – Mas você poderia falar alguma coisa a respeito desses tópicos que contribuem para a gênese do desespero dele, ainda que indiretamente?

(EA) – Somente depois que o paroxismo ou o turbilhão mais pungente do conflito passar, é que lhe será possível enxergar com mais fidedignidade o que realmente acontece em torno e dentro de si. Por fim, tudo se resolve, contanto que busquemos a fé em Deus e procuremos viver em paz de consciência, realizando o bem que esteja ao nosso alcance, em qualidade e extensão, assim nos ressarcindo, perante a Economia da Vida, pelo mal que hajamos perpetrado, voluntária ou involuntariamente.

(BTA) – Mais algo a dizer, Eugênia?

(EA) – Sim, o materialismo e o ateísmo são uma expressão pobre de cognição e elucubração. O estimado irmão em humanidade, acerca de quem falamos, tem inteligência suficiente para se afastar desse prisma tacanho de obliteração da lucidez. Em sua esmagadora maioria, os(as) apologistas da militância ateísta são, em verdade, anticlericais – reportando-nos aqui aos(às) movidos(as) de boas intenções. É muito óbvio que, em expressivo percentual, os(as) adeptos(as) das religiões e as próprias instituições religiosas, do passado e do presente, assassinam o ideal de espiritualidade genuína. Mas isso também se dá no âmbito do direito ou da política, por exemplo.

Perguntemo-nos, no entanto: pelo fato de detectarmos falhas no sistema judiciário e deficiências nos regimes de governo, segue-se que devamos abandoná-los, entregando-nos ao caos e à barbárie? É justamente um despautério desse viés, todavia, que se costuma disparar contra as religiões. Estultícia das mais levianas e criminosas, que conduz legiões ingentes à voragem do abismo, a toda ordem de degradação moral, psicológica, social.

Se o ser humano não atende seu impulso imanente à transcendência, sua natureza voltada à devoção ao Sagrado, a Algo Maior que o próprio ego, fatalmente canaliza essa energia, de modo refratário e doentio, para funções que não se coadunam com a seriedade do propósito de reverência a Deus, tornando-se, cedo ou tarde, vítima de compulsões tormentosas e de difícil erradicação, desencadeadas pela idolatria a outros “deuses”, como poder, prestígio, dinheiro, sexo, drogas etc.

(BTA) – Mas e quanto ao argumento, utilizado por ateus(eias) materialistas, de que não há base científica para a experiência da busca espiritual?

(EA) – Mera ignorância e, mais uma vez, leviandade, visto que, para chegarem a semelhantes ilações, fazem ingerência em domínios de especialidade do saber que lhes não são próprios. Por outro lado, resvalam em excessivo reducionismo, na análise de questões amplas e complexas demais para serem restringidas a poucas variáveis. Os estudos científicos que sustentam a importância e mesmo a necessidade da vivência de estados numinosos são tão numerosos e diversificados, em sua abrangência multidisciplinar, que seria melhor omitir uma qualificação mais apropriada para a conduta desses(as) senhores(as) irresponsáveis e desinformados(as).

A antropologia e as revelações impressionantes sobre os fenômenos levados a efeito por xamãs; a psicologia transpessoal e as investigações a respeito de estados expandidos de consciência e níveis de inteligência que vão além da personalidade egoica; a psicologia analítica (junguiana) e as concepções quanto à mística do inconsciente coletivo e ao poder dos arquétipos; a biologia avançada e a proposição revolucionária dos “campos morfogenéticos”; a tanatologia e os relatos assombrosos de experiências de quase morte (EQMs); os casos de terapia de vidas passadas (TVP)3, incluindo os de rememoração espontânea de existências pregressas, com inequívocas evidências da reencarnação (ou transmigração da alma humana, de corpo em corpo, no processo de evolução e infinita ascensão rumo à Divindade); o fabuloso e categórico terreno da transcomunicação instrumental (TCI), com os registros de mensagens transmitidas pelos espíritos, por meio de aparelhos eletrônicos, como computadores e celulares; os relatórios exaustivos, de mais de cento e cinquenta anos de observações científicas, que atestam a autenticidade da fenomenologia mediúnica, em sua polifacética manifestação; as neurociências e as novas descobertas indicando regiões específicas da neurofisiologia humana, correlacionadas às vivências místico-religiosas e às interações com a dimensão espiritual; os estudos copiosos, que hoje ultrapassam a casa do milhar, comprovando a eficácia da prece e da meditação em quadros patológicos do corpo físico; etc., etc., etc.

(BTA) – De fato, Eugênia, diante de tantas áreas seriíssimas de pesquisa, a denotarem claramente o realismo do mundo espiritual e a existência de Deus, pasmo quando proponentes do ateísmo vêm a público, apresentando argumentos tão tolos, irrelevantes e inconscientes… E alguns(umas) deles(as) são dotados(as) de avançado saber científico. Como podem incorrer em tamanha falha de inteligência?

(EA) – Porque desejam ardentemente, num plano emocional profundo, conquanto não o percebam conscientemente, justificar suas posturas arrogantes e inconsequentes. Dessarte, compartimentalizam a própria mente, gerando circuitos isolados de idiotia – digamos assim –, mas que ironicamente repercutem em todos os departamentos de suas reflexões e de seu comportamento. Não se dão conta dos desatinos e bravatas patéticos que verbalizam, ante caracteres mais lúcidos, que lhes não partilham do distúrbio emocional-moral. A presunção desmedida, por se julgarem acima de todas as outras inteligências, e a estupidez flagrante, por suporem nada poder existir além do que o próprio cérebro seja capaz de compreender, bem revelam o grau de fragmentação psíquica que essas infelizes criaturas padecem. Não notam que o “rei está nu”.

(BTA) – Nossa… Eugênia! Há muito tempo, não a vejo tão dura…

(EA) – Mas o tema nos merece uma dose de severidade. O(a) cirurgião(ã) faz incisões no(a) paciente, sem receio de lhe causar alguns sangramentos e romper certos ligamentos nos tecidos do corpo, justamente para conduzir o sistema completo do organismo a um estado de melhor funcionamento, a posteriori…

(BTA) – Ainda que o resultado seja negativo, ao fim…

(EA) – Sim. Terá havido a tentativa, ao menos. Esse é o dever dos(as) profissionais da saúde, e não propriamente o de salvar vidas, que nunca estão, realmente, em suas mãos.

(BTA) – E não há anestesia para as enfermidades da mente e da alma humanas… Essas “cirurgias” têm que ser feitas “no cru”…

(EA) – Lamentavelmente. Precisamos, pois, ignorar um pouco a dor emocional que provocamos, focando os benefícios duradouros que poderemos eventualmente auferir, a médio e longo prazos.

(BTA) – Você acha que o amigo em observação, neste estudo de caso, está incluso no processo de alienação parcial relacionada ao ateísmo-materialismo?

(EA) – Ele deve desenvolver um pouco de humildade e amor ao próximo, principalmente em relação a seus entes queridos, com destaque para seus filhos. O egoísmo é um dos maiores promotores do desespero e da inclinação suicida.

(BTA) – Há pessoas que ignoram apelos como o dele, por considerarem blefe.

(EA) – As estatísticas demonstram que muitos(as) não estão blefando. E, no que tange ao alarme falso, inúmeros(as) são os(as) incautos(as) que, embora acreditem sinceramente fazer um alarde sem respaldo íntimo, acabam dando voz a parcelas substanciais de seu inconsciente, por não terem condições de admitir, sequer para si mesmos(as), a extensão do próprio desespero. Ainda que haja a impostura, portanto, compete-nos agir como cristãos(ãs), com a retidão de quem recebe um pedido genuíno de socorro.

(BTA) – O comunicado da intenção de cometer suicídio me parece um pedido de socorro…

(EA) – Indubitavelmente.

(BTA) – Mesmo que inconscientemente… O sujeito, então, pode crer que dá o aviso do eventual suicídio por outros motivos…

(EA) – Sim.

(BTA) – O próprio amigo cético poderia dizer: “E por que o tal Espírito não faz comigo o que fez com a companheira que recebeu a mensagem mediúnica de caráter pessoal, diante de centenas de testemunhas? Por que não me dá provas de que essa história de imortalidade e de mundo espiritual é verdadeira?”4

(EA) – Pela mesma razão por que um(a) estudante de segundo grau não pode participar de um procedimento cirúrgico avançado. Essa seria uma possível metáfora, apesar de muito pobre. Na realidade, nós, os Espíritos que nos encontramos a serviço da condução da humanidade para o bem, não estamos interessados em impor convencimento a quem quer que seja – e isso se dá por Determinação Divina inamovível.

Nossos(as) leitores(as) devem seguir ideias ou princípios que propugnemos, seja no campo das abstrações filosóficas ou na esfera das diretas implicações para o comportamento humano, apenas quando se convencerem pela coerência e pragmatismo de nossas ponderações, e não por se empolgarem com malabarismos circenses de pirotecnia psíquico-paranormal.

É essencial que haja o fenômeno a ser estudado. Ninguém discute a função curativa de operações médicas, a despeito de raras pessoas haverem presenciado tais procedimentos clínicos. Exatamente por isso, fizemos a exposição pública da comunicação de cunho particular, prenhe de itens que o medianeiro não teria como conhecer por vias sensoriais normais de percepção. Uma irmã encarnada, que está inclusa em nossa organização há mais de uma década, recebeu a assistência que fez por merecer, em anos sucessivos de disciplinas acendradas de oração, estudo e caridade cristã. Nada acontece por acaso, neste impecavelmente justo Universo de Deus.

(BTA) – Mais algo a dizer, querida Eugênia?

(EA) – Não, satisfeita.

(BTA) – Posso perguntar mais alguma coisa sobre o assunto?

(EA) – Não. Por hoje e para o caso, é o bastante.5

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
em diálogo com Eugênia-Aspásia (Espírito)
1º de julho de 2008

1. A orientadora espiritual certamente conhecia o tema que eu iria propor. Mas humildemente seguiu o sistema humano de comunicação, no domínio físico de vida, esperando que eu articulasse as indagações, para que então me respondesse, uma a uma, e não todas a um só tempo, em bloco, como pode acontecer, em interações psíquicas instantâneas, quais as que amiúde vivencio com a própria Eugênia, quanto com outros(as) bondosos(as) e sábios(as) mentores(as) desencarnados(as), ao apresentar programas de televisão ou proferir palestras públicas, por exemplo.
(Nota do médium)

2. Nome omitido para preservar a privacidade da personalidade em foco.
(Nota da equipe editorial)

3. Fazendo aqui uso do termo clássico, para não gerar confusões dispensáveis nos(as) leitores(as).
(Nota da interlocutora espiritual)

4. No domingo passado (29 de junho de 2008), pela primeira vez, em público, o Espírito Eugênia, valendo-se do processo de psicofonia completa (popularmente conhecido como incorporação), por intermédio de minhas limitadas faculdades mediúnicas, chamou uma pessoa da plateia, entre os(as) encarnados(as) que acompanhavam presencialmente o grande banquete de Luz, e desenovelou, em miríades de preciosíssimos detalhes, diante de centenas de circunstantes, o que se passara com a interlocutora agraciada, em suas preces daquela manhã, repletas de experiências medianímicas – a destinatária também é médium muito ostensiva.
A cada apanhado de dados, que de modo algum eu teria como conhecer previamente, a amiga contemplada ratificava ao microfone, frente à plateia estupefacta, que todos os informes trazidos pelo guia espiritual estavam precisos, confirmações essas feitas sucessivamente, a pedido da própria Eugênia, que, muito enfaticamente, estimulava a decentíssima condiscípula a verbalizar se estava havendo algum erro na filtragem mediúnica, esclarecendo que, dada a complexidade da interação psíquica, em que duas mentes trabalham em parceria num mesmo cérebro, poderiam naturalmente ocorrer distorções no conteúdo transmitido. A confreira, entrementes, após as assertivas minuciosas da mestra desencarnada, corroborava a precisão da mensagem interdimensional, com sonoras expressões exclamativas, como: “Sim! Isso tudo aconteceu, exatamente assim!”
Ante a idoneidade inconteste da honrosa beneficiária, muitos(as) dos(as) presentes se emocionaram deveras, por perceberem algo tão dramaticamente comprobatório da realidade do Mundo Espiritual e da assistência do Plano Sublime, a nos oferecer orientação e consolo a todos(as) que estagiamos na faixa de matéria densa.
(Nota do médium)

5. Nunca é demais reforçar que o indivíduo com impulso suicida deseja fugir de dores que decerto encontrará não só intactas, como pioradas e aditadas a outras, bem mais profundas e excruciantes, na dimensão espiritual de vida. E, mais ainda, para completar o quadro de terríveis consequências do suicídio, terá que atravessar novamente, em futura(s) reencarnação(ões), a mesma circunstância que lhe provocou o gesto de desespero extremo na pregressa existência física. Importa também ressaltar que, em nível profundo, o que o(a) suicida em potencial pretende matar realmente é seu sofrimento, e não a si mesmo(a). Por fim, cabe lembrar que todo problema tem solução, desde que a criatura se esforce em manter a serenidade, trabalhe por descobrir e concretizar resoluções plausíveis para suas questões e vazios existenciais, procure a ajuda profissional de terapeutas, busque a fraternidade de grupos de apoio (de familiares e amigos ou não) e, sobremaneira, ingresse em uma atividade religiosa ou espiritual do próprio agrado.
(Nota do médium)