Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Meu filho, por que a tristeza? Falo por não ter um corpo escultural. O que hoje lhe ocorreu na academia de ginástica. E o que dizer de quem não tem a mente bem lapidada e o coração não burilado? Isso, sem dúvida, é o essencial.

Você me fala que não nasceu com o corpo de que gostaria. Mais altura, músculos que adquirissem tônus facilmente, traços mais finos. E não me falou nada sobre seus atributos intelectuais ou morais, de sentimento ou de espiritualidade.

Diz-me você, entristecido, que gostaria de portar um corpo como daqueles que vê desfilarem nos galarins da futilidade, entre os espelhos venenosos da vaidade vã. Como você acha, porém, que está o coração daqueles rapazes? Acha que estão felizes? Estão muito piores que você. Lamentam-se quase todos de não terem o cérebro que o mundo intelectualizado de hoje tanto cobra dos homens, ou por não terem a conta bancária de que se sentem merecedores, mas que sabem não terem condições de alcançar. E sabe por quê? Porque, a seu favor, nem mesmo têm a feliz possibilidade de usar a beleza para “subir na vida”, como fazem as mulheres que escalam a pirâmide social, conforme os homens que conseguem seduzir.

Você, porém, meu filho, dotado de inteligência rutilante, como ousa lamentar-se da sorte? Você acha que é menos digno ou valioso porque seu corpo, saudável e jovem, não se enquadra exatamente nos parâmetros milimétricos da estética oficial? Notou que é, inclusive, muito bonito – pelo que dizem a seu respeito – mas não consegue reconhecê-lo? Cuidado. Quando a preocupação se faz excessiva – e portanto patológica – num sentido, é sinal de que um problema mais sério, num nível mais profundo, está acontecendo. Veja a quantas vai sua auto-aceitação, sua auto-imagem, o quanto sabe admirar-se e amar-se pelas qualidades que já lhe exornam a personalidade.

Cuide, sim, do corpo, quanto da alma, que o habita. A completude do ser, enquanto encarnado, depende de uma sinergia perfeita entre ambos. Mas fique alerta para não descambar para as preocupações vãs com a aparência, ao reverso de se concentrar nas questões fundamentais da essência.

Você não precisa ser apreciado como objeto de desejo porque, felizmente, não precisa ou não sente necessidade de se prostituir para viver. Vive de sua inteligência e seu trabalho, com decência e ética, contribuindo para o bem comum. Então, por que a tristeza?… Sim, meu filho… você está precisando de algo… JUÍZO!!!

(Texto recebido em 19 de dezembro de 2002.)

(*) Dentre os muitos rapazes que freqüentam nosso grupo e também academias de ginástica, um deles me surpreendeu ao receber, por minha psicografia, hoje, esta mensagem amorosa e esclarecedora da sábia mentora espiritual. Retirei os elementos identificativos do destinatário – é óbvio – e também os preâmbulos e finalizações doces do texto, bem ao jeito eugeniano de ser, mas que não caberiam numa publicação. Apesar das adaptações imprescindíveis, entrementes, a própria Eugênia pediu que esta carta se convertesse em página coletiva, antes mesmo que começasse a recebê-la, pelo reconhecê-la últil a uma infinidade de outras pessoas. O jovem em foco, porém, de fato estava pensando no que Eugênia diz ter acontecido, nos detalhes que ela apresenta, de um modo muito particular, na manhã de hoje, conforme mo revelou ele próprio, ao eu lhe telefonar, logo em seguida à conclusão do transe.

Considero bem sintomático dos nossos dias essa freqüência concomitante a cultos de natureza espiritual e academias de musculação e congêneres. Estamos vivendo a era do homem integral, ativado em todos os seus níveis e necessidades. O perigo, porém, de inverte-se a ordem das prioridades é bem presente e não raro tornado realidade. O alerta do querido guia espiritual Eugênia não poderia chegar em momento melhor.

Permitam-me, por fim, um último aparte: para quem estranhou ter escrito: “querido guia espiritual Eugênia”, embora de fato soe esquisito, devo avisar que se trata, esse monstrengo fonético-gramatical, de resultado de uma regra do nosso magnífico e trágico Português, que determina que o vocábulo “guia”, na acepção que usei, seja palavra flexionada no masculino, ao passo que, por exemplo, na denotação: “Fui pegar a guia do banco”, surja o mesmo verbete flexionado, obrigatoriamente, no feminino.

(Notas do Médium)