Benjamin Teixeira
pelo espírito
Demétrius.

Dr. Demetrius, você pode nos dizer alguma coisa sob efeito de pequenos vasos-constritores, como os descongestionantes nasais de uso comum? A cocaína, por exemplo, pode gerar perda precoce de neurônios, por seu poder vaso-constritor, que contrai os pequenos vasos capilares do cérebro, com morte, em grande quantidade, de células cerebrais, que perdem a alimentação sangüínea necessária. Os descongestionantes nasais poderiam provocar os mesmos efeitos?

As lesões são tão insignificantes que é melhor não considerá-las reais. O álcool, o cigarro, os vícios em drogas ilícitas, os descontroles emocionais fazem estragos realmente grandes, o suficiente para as funções mentais serem abaladas.

Mas isso pode ser dito ainda que o uso do descongestionante tenha sido crônico?

Sim. O cérebro é uma máquina fabulosa. A plasticidade neuronal vai além do que se pensa vulgarmente. Observe-se que a perda de neurônios é acontecimento rotineiro, às dezenas de milhares, todos os dias, mas que alguém que faça bom uso de seu arcabouço psico-físico estará com suas atribuições psíquicas completamente preservadas, no correr de décadas, ainda que em avançada idade do corpo. O cérebro é passível de ginástica neurofisiológica, e muito sensível a ela, com efeitos fabulosos para quem a ela se dedique. Atividades como leitura, participação ativa de cursos de aprimoramento intelectual, a própria atividade profissional que solicite a mente – são formas de se compensar as sensações de perda de concentração, memória e capacidade de raciocínio. O estresse, por outro lado, é outro elemento altamente lesivo. Perda de sono, tensão constante, preocupação intensa podem, de fato, criar desgaste desnecessário à engrenagem encefálica e dar uma ilusão de demência precoce, quando a pessoa está apenas estafada. Sinais de disfunção mental, em qualquer idade, mas principalmente quando se é mais jovem, constituem, assim, um alerta grave, um sério chamado a reduzir-se o ritmo de trabalho, a medida de tensão psicológica e a se reavaliar o curso da própria existência. Quem obedece a esse chamado, pode, muito tranqüilamente, reverter os efeitos danosos que começa a sentir em sua funcionalidade psíquica, que são naturalmente compensados pelas novas conexões sinápticas engendradas, e pela reorganização da bioquímica cerebral, tóxica quando em períodos de estresse. Quem, porém, insiste em ignorar os avisos, pode, então, de fato, fixar perdas irreversíveis na maquinária sutil do pensamento.

Alguma sugestão para quem, lendo essas páginas, sinta-se incurso em qualquer uma dessas categorias de excessos que citou (quase todo mundo) e que podem prejudicar nossa estrutura cerebral?

Que procure levar uma vida intelectualmente ativa, e que, por outro lado, empenhe-se em relaxar as tensões emocionais. O foco tem que sair, assim, do emocional para o mental. Deve-se ler o emocional e esforçar o intelectual. O que as pessoas costumam fazer é justamente o reverso: vivem no emocional, forçando-o e lêem, esporadicamente, o intelectual. Não é de estranhar que a mente fique embotada e ineficiente.

Mas com isso você parece dizer que se deve ser racional. Não parece um contra-senso com as novas tendências que sugerem que as pessoas devem ser mais intuitivas?.

Engano seu. Quando disse que devem ler as emoções e não viver nelas estava fazendo referência exatamente ao exercício intuito. O drama do racionalismo exacerbado reside em viver-se exclusivamente a vida intelectual, com desprezo ou repressão da esfera emocional, e não foi isso que disse. Muitas das pessoas consideradas racionais, nesse sentido negativo, são, inclusive, na verdade, grandes emocionais enrustidos, racionalizando suas motivações profundas, de natureza emocional, por não observá-las, sendo conduzidos a atitudes altamente irracionais, o que é uma grande ironia.

E o Alzheimer?

É uma doença séria, que começa a afetar algumas pessoas, normalmente após a meia idade e, em maior medida, na terceira idade, e que não tem nada a ver, diretamente, com o que falo, muito embora, por exemplo, o alcoolismo e certas drogas possam acelerar o processo, assim como grandes tensões emocionais, como a perda não elaborada de entes queridos.

Mais algo a dizer sobre o assunto?

Que cada um, sem-dúvida, procure eliminar seus vícios, desde os considerados inocentes, como o uso de descongestionantes nasais a que fez referência, aos mais graves, para os quais se deve buscar ajuda especializada, mas sem paranóias, porque, como disse Jesus: “Não é o que entre pela boca do homem que faz o homem imundo, mas sim o que sai dela.”

(Diálogo travado em 2 de janeiro de 2003.)