1927. A euforia tomava conta de Nova York. O ganho nas ações da bolsa de valores era estratosférico, para muitos novos milionários. Os Estados Unidos viviam uma coqueluche de crescimento extraordinário de, realmente, fazer inveja às antigas nações da Europa, arrasadas, ainda sob efeito da devastação econômica e humana da Primeira Grande Guerra Mundial. A indústria explodia de modo fenomenal, e de tal modo os americanos estavam sendo bem-sucedidos em seu american way off life que, para dar um exemplo prosaico – e significativo em suas implicações –, enquanto o restante do mundo andava praticamente a cavalo, existiam automóveis em medida para 70% das famílias de todo o país.

Todos sabemos, porém, o que aconteceria logo mais, numa fatídica quinta-feira de outubro de 1929. O crash da bolsa de valores de Nova York não só abalou a América: quase termina de precipitar o mundo no abismo do caos. Para muitos analistas da época, era o fim do sonho americano e de todas as propostas de liberdade e prosperidade por que o povo valoroso daquela nação propugnava. Concomitantemente, na Alemanha magoada e revoltada pela derrotada de 1918, que se militarizava rapidamente, ascende ao poder, com velocidade meteórica, o psicopata megalomaníaco e delirante Adolf Hitler, que viria a ser o füher, já a partir de 1933.

A essa altura, milhões de americanos fazem filas para tomar sopa gratuita, oferecida pelo governo, e adquirir um trabalho temporário, projetado por John Maynard Keynes, o gênio da economia que propôs o reerguimento do grande gigante norte-americano, através de empregos provisórios, criados pelo governo, para construção de obras públicas, com o fito de reativar a economia como um todo e resolver, por outro lado, o calamitoso problema social em que estavam enredados os Estados Unidos da América.

A década de 30 correu para o abismo. Enquanto os irmãos do “Novo Mundo” se debatiam em sua longa e amarga “depressão econômica”, o “Velho Mundo” se angustiava, com a espada de Dâmocles baloiçando sobre sua cabeça. A Alemanha cada vez mais se fortaleceu, como potência industrial e bélica, e era visível a ideologia assassina e etnocêntrica que a inspirava, inflamada por ímpetos cruéis de vingança, pela humilhação do fim da Guerra de 1914, levando as potências europeias, mais uma vez, a aumentarem as tensões entre si, que vieram a desembocar, tragicamente, na conflagração da Segunda Grande Guerra, a primeiro de setembro de 1939.

O mais hediondo espetáculo de bestialidade assistiu-se no transcorrer daqueles seis anos macabros. 100 milhões de mortes, direta e indiretamente provocadas pelo confronto global, campos de concentração, bombardeio de populações civis, fome e miséria generalizadas, a civilização à beira do colapso. E, ao final de tudo, como coroamento do inferno que perpassou pelo hemisfério norte daqueles dias, a explosão das duas bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki, respectivamente em 6 e 9 de agosto de 1945.

O horror, porém, não havia ainda encerrado sua performance de desgraça, e, nos anos subsequentes ao término da mais medonha das guerras de todos os tempos, a humanidade acompanhou, de um camarote tormentoso de impotência, às duas grandes superpotências de então armarem-se com um mastodôntico arsenal bélico-nuclear capaz, ao final de uma campanha de décadas por acúmulo de armas, de arrasar todo o planeta 50 vezes.

O Apocalipse parecia inevitável. Viver durante os anos 50 e 60 do século XX apresentava uma sinistra semelhança com os anos 20 e 30. Havia, indubitavelmente, no boom econômico e demográfico que ocorreu nos Estados Unidos, no transcurso da década de 50, um quê das alucinações de otimismo dos anos 20, e quando o projeto espacial americano, entre os anos de 1958 e 1961, dava gritantes sinais de atraso, em relação ao programa espacial russo, as ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, propostos pela Revolução Francesa e aplicados de forma pragmática e com sucesso pela nação ianque, pareciam ter seus dias contados. A crise da Baía dos Porcos, em 1962, então, pareceu um prenúncio do inexorável: o fim do mundo.

O Armagedom, porém, não aconteceu. Em 1989, após décadas de pavor, com a possibilidade de uma guerra nuclear de vastas proporções, aconteceu a “Queda do Muro de Berlim”, a que se seguiu o esbarrondamento de toda a “Cortina de Ferro” do “Bloco Comunista”, tendo, no fim da “União das Repúblicas Socialistas Soviética”, em 1991, seu clímax espetacular. A democracia e a economia de livre mercado, e todas as implicações culturais, comportamentais e morais dessas filosofias pareciam, por fim, alcançar o trono da glória eterna. Ingenuamente, no início desses dias, ainda em 1989, é trazido a lume o famigerado artigo “O Fim da História”, declarando, mui precoce e extemporaneamente, o triunfo final dos princípios da Economia de Mercado e do Liberalismo. O planeta inteiro mergulhou em novo período de efervescência de otimismo, semelhantes aos dos anos 20 e 50 do século passado, encerrado, mais uma vez, com um trauma coletivo emblemático: o ataque terrorista ao maior símbolo do poderio norte-americano, não só em termos comerciais, mas também culturais – o Worid Trade Center.

Nestes dias de agora, a civilização parece, mais uma vez, periclitar. Uma onda de terror (e de terrorismo) pervaga pelos quatro cantos do mundo, e espera-se pelo pior. De fato, há sério risco de que o terrorismo, fomentado pelas discrepâncias inconciliáveis entre a civilização capitalista e a islâmica, em todas as suas facetas atuais (com uso de armas convencionais e químicas) e outras, de que Deus nos proteja (com uso de armas biológicas ou nucleares), ameaça o equilíbrio e mesmo a sobrevivência da humanidade no planeta.

Entrementes, Deus vê. Tranquilizemo-nos. Trabalhemos, sem excessos de otimismo ingênuo (que propicia o crescimento sorrateiro de cânceres insidiosos), nem de pessimismo cínico (que bloqueia a criatividade e a motivação para fazer o que se pode e deve fazer), mas com um realismo esperançoso e lúcido, arregimentando, engendrando e desenvolvendo forças, recursos e, possibilidades, para realizar o melhor, depurar o que precisa ser modificado e, por fim, eliminar o que precisa ser extinto, pelo bem geral.

A Terra sobreviverá, por fim, bem como a humanidade. Os ecossistemas serão respeitados e mantidos, assim como as diferenças entre povos e culturas, com o debelamento universal e definitivo da pobreza e de todas as formas de injustiça social e econômica. Por que a certeza? Por um só motivo: as nações ricas estão suficientemente informadas de que, com a disseminação do modelo de riqueza e prosperidade dos povos ocidentais do Norte, a miséria dos pobres chegará a seus calcanhares, irrefreavelmente, cobrando-lhe tributos horrendos de dor e desgraça, caso não tomem a iniciativa de partilhar sua fartura e fortuna com todos os povos da Terra.

E assim, no alvorecer do próximo século, o mundo será outro, sem mais as crises de oscilação entre a glória e a desgraça que malsinam a humanidade há milênios. A era da felicidade, da fartura e da fraternidade, começará, então, para todos os povos do mundo, e, esta sim: não terá fim.

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Gustavo Henrique (Espírito)
18 de janeiro de 2004