Benjamin Teixeira
pelo espírito
Temístocles.

Seu corpo é uma máquina biológica. Você já parou para pensar nisto? Pois bem. E como toda máquina, sofre avarias, tendo prazo de validade, de modo que está destinada a findar seu funcionamento em tempo pré-estipulado por seus projetistas. Muito mais do que um mero aparelho de natureza mecânica, que, com reparos excepcionais, pode ser, virtualmente, eternizado, como os automóveis de coleção, seu corpo é uma peça complexa viva, e, assim sendo, na condição de organismo, fatalmente aproxima-se da desagregação molecular, após o esgotamento da carga de vitalidade que lhe é apanágio da existência como sinergia entre as comunidades celulares que o compõem.

Sim, cuidados alimentares, atividades físicas, terapêutica ortomolecular e mesmo a futura terapia genética prolongarão não só a vida, como a qualidade da existência física, enquanto ela durar. Entretanto, ainda assim, subsiste a realidade indiscutível: você usa seu corpo, gera uma sinergia com ele, que lhe cria mesmo uma segunda natureza; mas, em última análise, você não é seu corpo, e, inclusive, vai, inapelavelmente, abandoná-lo, dentro de uma certa quota de tempo.

Diante de tal irretorquível e incontestável realidade, cabe-me considerar, interrogando-o, da vantajosa perspectiva de um desencarnado:

1) Como tem aproveitado seu tempo? Simplesmente tem-no utilizado para gozar a estada no plano físico, como se estivesse em estação de férias, curtindo e extraindo tudo que pode do sofrido ventre da Terra e de seu próprio instrumento físico de vida?

2) Quanto tempo você acha que tem ainda no vínculo com seu maquinário biológico? Um mês? Um ano? Será que terá o prêmio de estagiar longamente em seu veículo de carne, vendo-o lentamente aproximar-se da tumba, perdendo forças e eficiência em todos os sentidos, enquanto você ilumina sua consciência, engrandecendo-se em sabedoria e lapidando-se nos sentimentos?

3) Quanto você acha que está cumprindo do que veio fazer nesta reencarnação? Creio que já deva ter consciência de que, ninguém estando por acaso encarnado (porque a Inteligência Suprema nada criaria ou permitiria existir à toa), há planejamentos seriíssimos em curso, no decorrer do pequeno interregno de sua existência atual, colimando o aprendizado pessoal e serviço prestado à coletividade, de que terá que dar contas, na medida do que concretizou ou não. Já conhece sua missão de vida? Começou, ao menos, a se dedicar a trabalhos de interesse comum, voluntários ou espirituais? Tem orado ou se devotado a práticas meditativas, para melhorar seu grau de lucidez sobre o que deve fazer nesta existência e de que modo?

Você pode ignorar meu chamado, considerar minha fala de muito mau gosto e simplesmente fazer de conta que o que digo não tem valor, o que seria uma pena, porque estou lhe ofertando uma dádiva, ou, como ficaria melhor afirmar, na linguagem do egoísmo materialista da Terra: oferecendo-lhe um presente de valor inestimável. De qualquer forma, ainda assim, seu corpo vai continuar a se aproximar da tumba, por mais que seja cuidadoso com ele, por mais que zele por sua saúde e sua longevidade. Dia chegará em que cirurgias, tratamentos e táticas de contornar o desgaste orgânico não mais serão eficazes para sua cansada ferramenta física de existência, que, então, cessará seu funcionamento e naturalmente apodrecerá, como toda matéria orgânica morta, em cuja ocasião seu espírito estará expulso do casulo material para o confronto inexorável com a própria consciência e seus Maiores no Plano Sublime.

Adiar a reflexão para depois? Para quando? Para quando não lhe houver sobrado mais uma partícula sequer de disposição para mudar nem fazer mais nada do que negligenciou? Supõe, quiçá, que orações e práticas religiosas, no final da vida física, compensá-lo-ão por anos de desperdício e desatino? As artimanhas, prezado leitor, empregadas para se safar de regras e compromissos do domínio físico e social de vida, de nada valem no campo das verdades eternas do espírito. E, assim, talvez torne a se lembrar de minhas palavras… tardia… amargamente…

(Texto recebido em 27 de janeiro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)