Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia

Não se revele totalmente a ninguém. Poderá contar, tão-somente, com a incompreensão das pessoas mais queridas, quando mais transparente estiver sendo. Claro que a confidência, a partilha de dramas e dilemas íntimos é de extrema valia para a criatura humana, no intercâmbio da fraternidade e da confiança genuínas. Todavia, muitas vezes, certas informações que se ceda de si podem estar além da capacidade de entendimento daqueles que se lhe fazem receptores, podendo ser mais contraproducente dizer que calar. O custo-benefício do desabafo, nessas circunstâncias, pode não compensar.

Mesmo entre marido e mulher, mãe e filho, mentor e pupilo (na relação entre encarnados), não deve haver abertura completa. Temos sempre a intuição daquilo que podemos ou não podemos falar. Certas fantasias íntimas, idéias, sentimentos negativos ou medos nem sempre devem ser manifestados, sob pena de perdermos o respeito, a confiança e o carinho daqueles que mais prezamos.

Sim, é importante a honestidade, mas transparência demais pode indicar ingenuidade, e uma ingenuidade perigosa que oferece armas ao inimigo para destruir a criatura que se confia integralmente a alguém, inclusive, em certos casos, chegando a converter em inimigos os entes mais amados. Um pouco de maturidade psicológica deve reger as relações interpessoais, para que os confrontos de ego, as suspeitas mesquinhas e as interpretações equivocadas não tenham oportunidade de acontecer. É necessário haver, entre indivíduos, um pouco dos cuidados diplomáticos que existem entre nações, protegendo-se brios, preconceitos e interesses pessoais de um enfrentamento direto.

Pense muito bem, querido amigo, quando for revelar algo a seu respeito a alguém. Somente Deus, Seus emissários desencarnados e raríssimas exceções na Terra estão devidamente gabaritados para ouvir certa ordem de confidências. Fale sobre sexo com uma pessoa, sobre orgulho com outra, sobre impulsos competitivos com uma terceira, e assim por diante, embora todas sejam de sua mais estrita confiança. Alguns assuntos, porém, pode intuir não poder apresentar a ninguém: respeite o impulso. A questão é que valores, temperamento e padrão de personalidade, cultura e estrutura emocional devem ser considerados para que se possa fazer uma exposição franca da alma, nesse ou naquele particular. Condicione, assim, suas expressões de si, de acordo com o interlocutor, lembrando-se de que todo intercâmbio fraterno, em última análise, simboliza um contato com Deus, que, de fato, dá-se indiretamente por esse meio. Mantendo isso em mente, ficará mais fácil para você compreender que, muito embora mostre algumas peças do tabuleiro de sua mente para esse ou aquele alguém, ninguém deverá ter conhecimento completo do jogo, mesmo porque, por mais que não note, nem mesmo você o tem, de modo que, se fizer a tentativa de apresentar-se totalmente a qualquer pessoa que seja, estará mentindo para si e para essa pessoa, fazendo uma imagem distorcida de si. Confidencie-se com o Ser Supremo e Seus representantes invisíveis. Desenvolva com Ele uma intimidade que lhe deixe satisfeito e em paz, mesmo ocultando aspectos de sua natureza a todas as criaturas vivas no corpo. Somente Deus pode saber tudo. Somente Deus sabe o que diz respeito a você, além, muito além do que você mesmo possa conceber.

(Texto recebido em 8 de maio de 2002.)