Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

 

Seu cérebro jaz esgotado por múltiplas e intermináveis jornadas de trabalho, pedindo repouso para não só refazimento, como também para a re-elaboração de conteúdos complexos, em texturas mais coerentes de significado. Você, porém, exige-lhe trabalho a mais, sem parar, como se tratasse de máquina mecânica, sem qualquer elemento vivo e vibrátil, como é seu implemento biológico de pensar.

Seu coração bondoso estressou-se até o último nível de suportação emocional, doando-se, em manifestações contínuas de afeto, carinho, proteção, doçura, e, depois de todos os ataques injustos, ingratidões, sarcasmos e incompreensões, cobra-lhe permaneça em serviço, como se nada houvesse acontecido, doando a linfa que já não mais tem sequer para si.

Claro que a persistência é ferramenta indispensável de vitória e que ninguém consegue chegar a lugar nenhum sem sobraçar dificuldades e superar obstáculos, com galhardia e ânimo. Todavia, deve haver equilíbrio no fluxo do trabalho e do lazer, do esforço e do descanso, da execução e da criação, a fim de que não se colapse o delicado mecanismo da consciência, em distúrbios psíquicos de diversa monta, que vão dos surtos de raiva e amargura incontroláveis, a enfermidades do corpo e da alma de difícil erradicação, como a depressão e as complicações neuróticas profundas.

Renove-se de tempo em tempo, amigo. Aceite o desafio da modernidade, de trabalhar infatigavelmente, mas não se esqueça de atender, outrossim, ao convite da pós-modernidade, de transcender o caos da rotina, com a ordem mais complexa da criatividade, num nível mais profundo de organização, que somente a reflexão serena, propiciada pelo descanso e a contemplação, pode gerar. Aprenda com Deus, o Ser Transcendente, a sempre agir, num nível profundo, mas também com a natureza, a manifestação viva do Deus Imanente, que pára, para reciclar-se e recriar-se, e vencer a morte e transcender-se. Não por outra razão, o trabalhar compulsivamente já é visto atualmente, por especialistas em psicologia no plano físico, como forma de doença, de mecanismo de fuga e compensação, embora social e moralmente elegante, por deficiências e pendências não resolvidas.

Assista a filmes de caráter instrutivo, afaste-se dos redutos do trabalho e da moradia por alguns dias. Conviva com pessoas diferentes. Leia obras de conteúdo pacificador e instigante, procure espelhar-se na natureza e encontrar-se com Deus.

Depois, assim, de breve pausa de um, dois ou quatro dias (talvez até mais), notar-se-á outro homem, outra mulher, capacitado a recomeçar a faina bendita de seu trabalho, com energia renovada e, principalmente, mais inspiração, motivação, esperança, paz e equilíbrio.

Se está em fase crítica de concretização de um projeto, ou no empenho hercúleo de salvação de conquistas preciosas que lhe consumiram anos de esforço e sacrifício, mais um motivo sério para fazer pausas estudadas, a fim de que o encaminhamento das atividades emergenciais não sofra solução de continuidade, quando menos isso poderia acontecer.

Assim sendo, pelo bem do trabalho que realiza, pare-o de vez em quando e respire outros ares. Ou todos os ares que respira tornar-se-ão pestilenciais e você mesmo assassinará a alma do seu ideal e da sua inspiração, nos tóxicos mortíferos da rotina, do estresse e do suicídio indireto, nos excessos impostos ao corpo físico.

(Texto recebido em 29 de agosto de 2002.)