Benjamin Teixeira de Aguiar – Tão querida Eugênia, você gostaria de desenvolver algum tema para publicação?

Espírito Eugênia-Aspásia – Sim, a fertilidade dos momentos difíceis. Noutra ocasião, já tratamos da diferenciação entre fertilidade e criatividade. Períodos férteis, para se tornarem criativos, demandam decisão de quem lhes padeça a influência, no sentido de adotar, no transcurso deles, uma perspectiva prática, produtiva, educativa, autoeducativa.

BTA – E os momentos difíceis seriam os mais férteis…

EEA – Exatamente. É comum pessoas se colocarem em posição de vítimas, quando entram em contato com as melhores oportunidades de aprendizado e crescimento, realização e transformação para melhor. Fazem preces a Deus, pedem certos favores da Vida, e, quando a circunstância que propiciaria tal favor espoca em seus caminhos, apavoram-se, choram, irritam-se, blasfemam.

Situações complicadas e mesmo trágicas comumente trazem, em seu bojo, os mais preciosos tesouros da existência, favorecendo, ao indivíduo que nelas esteja imerso, saltos de consciência que dificilmente aconteceriam de modo suave ou, se ocorressem, demandariam muito mais tempo para maturarem. Demissões, falências, divórcios, enfermidades, perdas de entes queridos, decepções com amigos(as) ou familiares, descobertas ingratas sobre si próprio(a) – tudo que compõe o dia a dia menos agradável da condição humana, que tanto é motivo de revolta e indignação, costuma ser a embalagem mística das maiores dádivas da Espiritualidade e do(a) Criador(a) para uma criatura em nível hominal de consciência.

BTA – Sem nenhuma ideia de culto à dor.

EEA – Jamais alguém, de sã consciência, minimamente sensato(a) ou esclarecido(a), faria apologia à dor. O problema é anverso – a cultura ocidental da atualidade é por demais infantil, no trato com a face sombria do existir. Não há maturidade psicológica ou visão inteligente e realista da vida, sem o reconhecimento das naturais angústias existenciais, frustrações e vicissitudes que pervagam a jornada de um ser humano. O busílis é se a pessoa decide lutar e sofrer por algo que seja compensatório – que carreie alegrias e conquistas maiores que as privações ou reveses que enfrente –, ou se resolve padecer de modo inglório, improdutivo, autodestrutivo e mesmo imoral.

BTA – Eugênia, você poderia trazer alguma metáfora que tornasse mais fácil a assimilação de tão pouco palatável, não obstante óbvia, constatação da sabedoria universal?

EEA – A gravidez humana. Tudo é desconforto progressivo para a gestante. Toda a fisiologia é afetada. Movimentar-se, comer, dormir, excretar, até respirar – tudo fica dificultado e incômodo. E o paroxismo do sofrimento – a dor do parto –, se fosse sentido sem o lenitivo dos anestésicos modernos, daria uma noção apropriada de como grandes padecimentos podem ser extremamente compensatórios. Uma dor aguda, que traz a conquista de uma alegria inefável para toda uma vida. Ainda quando consideramos os padecimentos amiúde cruentos a que mães e pais são submetidos(as), é pouco crível conceber um(a) deles(as) arrepender-se de ter tomado a decisão de ter filhos(as). A ventura do amor em profundidade, do significado e propósito propiciados pela vivência da parentalidade, em muito supera qualquer experiência de agonia, por mais atroz, que sofra um pai ou uma mãe, pelo rebento de seu coração – biológico ou não.

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
em diálogo com Eugênia-Aspásia (Espírito)
20 de setembro de 2019