Benjamin Teixeira
pelo espírito
Temístocles
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“Rogo-vos, irmãos, que desconfieis daqueles que causam divisões e escândalos, apartando-se da doutrina que recebestes. Evitai-os! Esses tais não servem ao Cristo, Nosso Senhor, mas ao próprio ventre. E com palavras adocicadas e linguagem lisonjeira enganam os corações simples. (…) O Deus da Paz em breve esmagará Satanás debaixo dos vossos pés.”
Paulo (Romanos, 16:17-18 e 20)

“Satanás, representando o poder do mal, na vida humana, será esmagado por Deus; todavia, Paulo de Tarso define, com bastante clareza, o local da vitória divina. O triunfo supremo verificar-se-á sob os pés do homem.”
Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, em “Pão Nosso”, parágrafo quarto do capítulo 27, intitulado “Esmagamento do Mal”.

“(…) Em geral, o homem vê apenas o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma operação que lhe trará a cura.”
Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 7.

“Fez Ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas.”
(João, 2:15)

“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”
Jesus (Mateus, 12:48)

“Não julgueis que vim trazer a paz à Terra. Vim trazer não a paz, mas a espada.”
Jesus (Mateus, 10:34)

Não há inocência na negligência, ante o mal deliberado. Qualquer tribunal da Terra entende tratar-se, nesta circunstância, do princípio da cumplicidade ou da omissão de socorro, conforme o caso em foco. Quem silencia participa. Quem fomenta pelas costas, capciosamente – pior ainda –, é covarde e manipulador maquiavélico, merecendo a mais firme reação de defesa, por parte daqueles que se sintam responsáveis por patrimônios culturais e morais (que lhes foram confiados por Deus), onde os agentes da perturbação se instalam, para disseminar os ventos macabros da desagregação.

Scott Peck – pai da denominada “Psicologia do Mal” –, recém-ingresso em nosso domínio de existência, asseverou, ainda em sua encarnação finda, que o mal poderia ser explicado, psicologicamente, como uma degradação dos impulsos naturais de agressividade nos indivíduos; mas que a inocência, em seus fundamentos últimos, era, literalmente, inexplicável. O mal, amiúde, está muito mais no sorriso frio da indiferença criminosa do que na fúria enlouquecida de quem, em verdade, jaz motivado por forças indômitas de medo e as naturais conseqüências de eclosão de ira, no impulso compreensível de autoproteção que é ativado pelo sistema psíquico que se vê encurralado por perigo ou ameaça considerados (ainda que indevidamente) invencíveis ou impossíveis de ser faceados.

Por outro lado, existem os moralismos falsos ou a autoridade espiritual degenerada, que assumem ares de dignidade ferida, para emoldurar-se de uma razão que não possuem. As hipocrisias religiosas, familiares e sociais são pródigas de exemplos, neste sentido. Na deificação da instituição da maternidade e da paternidade, não raro ocultam-se defecções psicológicas ou morais muito graves, que, às vezes, não sofrem a devida educação, pela invisibilidade capciosa da capa de pureza com que se revestem. A exemplo, um pai ou uma mãe que persegue um filho adulto, com relação às suas escolhas de ordem afetiva, denuncia o que Freud, o fundador da psicanálise, muito bem aventou, em sua teoria clássica da libido: que esta energia era a base motivacional das atitudes humanas. Tal hipotética criatura, em sua sanha invasiva, estaria denotando a perversão inconfessável de desejar o conúbio sexual incestuoso com o próprio rebento, objeto de sua obsessão. Para ocultar – inclusive de si mesma (a mente de vigília, o estrato consciente da psique, não suporta esta ordem de revelação, normalmente) – seu impulso verdadeiro, cria racionalizações que lhe justificam a fúria de desrespeito à liberdade e ao direito de ir e vir do filho do corpo, quais os preconceitos sociais de classe, etnia ou orientação sexual, com que projeta, no “rival”, a imagem de “monstro”, que, na realidade, habita em seus próprios sentimentos vis não assumidos, conscientemente, em torno da figura do filho.

Não se acumplicie, amigo, com posturas acomodatícias, que em nada têm a ver com genuína espiritualidade. Recorde-se de Jesus, com o chicote à mão, expulsando do templo os que mascaravam intenções de ganho pessoal com uma pseudo-adoração, personalidades que não viviam o legítimo sentimento de reverência e fé. O aspecto monetário é a interpretação mais literal e superficial que se pode fazer da passagem, e, neste sentido, assemelha-se a outra, em que o Cristo parece enxotar a própria Mãe e “irmãos” do círculo dos que O seguiam, porque o Mestre, de modo algum – como outros trechos do Evangelho o indicam inequivocamente –, estava desautorizando moralmente ou desmerecendo a grandeza do Espírito de Sua Progenitora, mas sim aproveitava o ensejo ofertado em ambos os episódios (do chicote no templo e da Mãe e irmãos que O procuravam), para definir a diretriz de prioridades que deve nortear o coração e a mente dos que se aproximam de Deus e dos cultos à Sua Sacrossanta Pessoa.

Um câncer, para ser tratado, embora se deva remontar às raízes profundas de sua etiologia psicológica e espiritual, precisa, de acordo com a gravidade do desenvolvimento da metástase, ser submetido à ablação cirúrgica. A remoção de tecidos cancerosos, como matrizes de destruição do organismo, não pode ser substituída, tão-só, pelo reconhecimento das geratrizes emocionais do processo mórbido. O ataque ao problema deve acontecer de modo multidimensional, assim cercando-o, para resolvê-lo na íntegra, de sorte que o cirurgião deve mesmo extrair uma parte um tanto maior do tecido por precaução, quanto o terapeuta e o orientador religioso podem sugerir uma série de medidas profiláticas a serem encetadas, em paralelo à terapêutica medicamentosa, no intuito de gerar o bloqueio à reincidência da degenerescência celular em massa, no corpo físico.

Há o instante para o acolhimento, como existe a hora em que se deve proceder à aplicação da energia justa, em defesa dos valores de cultura e espiritualidade que nos foram confiados pela Vida. Um pai ou uma mãe não serão muito suaves ao enfrentarem, fisicamente, um agressor de seu filho, no exato momento em que lhe percebe o movimento de ataque homicida, contra aquele que saiu de suas próprias entranhas. Da mesma forma, o salva-vidas, para resgatar alguém da morte certa, por afogamento, pode vir a deslocar o ombro da vítima potencial ou mesmo lesionar algum tendão ou músculo, no próprio gesto do salvamento. Assim, fiquemos atentos para a questão da disciplina e severidade que são exigidas, volta e meia, dos que se incumbem da condução de grupos, instituições, famílias. Não nos acovardemos, ao sentir que somos chamados à ordem, na proteção do essencial, para a nossa e a felicidade e paz de nossos tutelados, e ajamos conforme o paradigma da coragem crística, lembrando-nos de que, dentro do quadro principiológico legado por Jesus, como norteador da conduta de Seus discípulos, há a inolvidável – e estranha, para alguns – máxima: “Não vim trazer a paz, mas a espada”.


(Texto recebido em reunião mediúnica fechada, realizada na sede do Instituto Salto Quântico, no dia 13 de maio de 2008. Revisão de Delano Mothé.)

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