Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Eugênia, o que você nos pode falar sobre a maledicência?

Primeiramente, que as pessoas, no nível evolutivo médio da Terra, têm enorme necessidade de saber dos pontos fracos de seus irmãos em humanidade, por um instinto natural de defesa, colhendo informações, para melhor se posicionar nas relações sociais. O impulso a ver o pior nos outros, portanto, tem sua origem fundamental no medo e no instinto basilar de auto-preservação. Algumas pessoas, entretanto – e lamentavelmente isso é comum na Terra –, degeneram para a prática de trocar informações mórbidas, com intenções neuróticas e mesmo malévolas, como divulgar aspectos mesquinhos a respeito dos outros ou mesmo inventá-los, quando não apenas transmitindo um dado adiante acrescido de ideias outras, por pura força da imaginação. Desse modo, intentam colocar-se acima da pessoa de quem depreciam a imagem, com o vão prazer de “piorar” o outro, para não se sentirem tão ruins.

Que fazer diante daquelas situações horríveis em que as pessoas nos vêem traços negativos que não portamos, e que nos caluniam sem o menor pudor?

Se couber a defesa, caso haja um confronto direto com o acusador, que se o faça moderada, racional e polidamente. Mas se a conversa corre à distância, deve-se simplesmente silenciar e seguir realizando as próprias tarefas, designadas pela Divina Providência. A vida mostrará, em tempo certo, onde estava a razão, e onde se ocultava, perfidamente, a mentira. A realização do bem é a melhor prova de se estar no caminho da verdade, ao passo que simplesmente fiscalizar-se a vida dos outros é atitude suspeita e pouco digna.

O que você diria a quem tem o gosto do mexerico?

Que procure se conter. Que se surpreenderia se pudesse conversar diretamente com as pessoas que são foco da maledicência, vendo como são distorcidas as conversas vulgares; e que a intriga, a malícia e a maldade a que se confia voltam com uma força destrutiva em sua direção, em tão maior medida, quanto menos a pessoa caluniada merecer.

Força destrutiva?

Observe a vida de maledicentes, e notá-los-á normalmente infelizes e cheios de frustrações. Porque, sem dúvida, aqui ou ali, estará atacando inocentes. É inevitável. A prática da fofoca é tão confiável como fonte de informação quanto a brincadeira do “telefone sem-fio”, e dar-se a passar adiante, levianamente, dados sobre a reputação alheia que não se checou adequadamente constitui atitude, no mínimo, irresponsável. É por isso que alguém move uma campanha difamatória contra outrem, e sua própria vida desanda de tal modo em todos os sentidos, que pode ir à bancarrota não só moral, como financeira, afetiva e familiar, principalmente se a pessoa que lhe é mira do ataque ensandecido está ligada às forças do bem. A grande questão é que dificilmente o maledicente dá-se conta da causa de sua desgraça, sentindo-se ainda mais vítima e injustiçado pela vida, com isso confiando-se, tragicamente, com mais intensidade, ao mesmo vício do fuxico, como um meio de compensar seu sentimento de desvalia pessoa, o que gera um terrível ciclo vicioso de derrota na própria existência.

Podemos dizer que alguém, por força de vingança, age dessa maneira?

Mui comumente. E não apenas no sentido deliberado, planejado com critério estratégico. Poucas pessoas fazem isso – quero dizer: conscientemente se decidirem e premeditarem meios de se vingar de alguém por meio do apedrejamento de seu nome. Mas, inconscientemente, o sentimento de rancor, ciúmes e orgulho ferido, por exemplo, de pessoas que se sentiram preteridas no jogo do amor pode levá-las a enfeixar na mente e disseminar pela boca em seguida, tudo que a má-vontade e olhos maliciosos conseguirem notar e, principalmente, imaginar, de modo totalmente irresponsável, muito embora sua mágoa não lhes permita enxergar sua atitude inconsciente, abjeta e mesmo criminosa. Uma vida de decepções e amarguras, porém, já começando desta mesma existência, é inexoravelmente a conseqüência para alguém que se dê a práticas do gênero.

Mais algo a dizer sobre assunto?

Não. Por hoje, é o bastante.

(Diálogo travado em 15 de abril de 2003.)