Benjamin Teixeira de Aguiar Eugênia, que acha do princípio da incerteza, proposto pelo físico alemão Werner KarI Heisenberg, em 1927?

Espírito Eugênia-Aspásia Excelente. Esse princípio tem implicações mais extensas do que pode parecer à primeira vista e pode muito bem ser entendido como uma linha filosófica de leitura da realidade, para que o indivíduo, no nível humano de consciência, possa se aproximar da verdade.

BTA − Porque não existem verdades absolutas no nível de consciência em que estamos…

EEA − Exatamente. Mais que isso, é bom que se tenha mais claramente esse princípio em mente, porque muita gente compreende, concluindo com pressa (o que denota superficialidade nos raciocínios desenvolvidos) que aplicar o princípio da incerteza é negar a existência de fenômenos que fujam diretamente a uma comprovação cabal de sua existência. O factual pode ser ilusório; até o físico não é, normalmente, o que parece ser. Então, não se trata de utilizar, “a priori” e mui deficientemente, o princípio da incerteza, para se negar tudo que escape a uma análise direta, positivista dos fatos, mas negar toda ordem de certeza, incluindo a certeza ingênua de que só existe aquilo que se pode ver ou tocar, já exaustivamente condenada pelos estudos de Física (só para ficar num dos campos da Ciência), há mais de um século.

Não se limite, ou o mundo lhe apresentará limitações de todas as ordens, de todos os lados, por todos os modos, a começar dos recôncavos mais profundos de você mesmo, d’onde ouvirá suas entranhas, demonizadas no desprezo a que foram relegadas, clamarem, sinistramente: “Prova, ó louco revel de si próprio, o fel da desgraça que escolheste, porque, se desististe de ser o si-próprio, abandonaste a vida, e só podes, assim, experimentar o frio, a fome e a morte, onde quer que estiveres.”

BTA − Pode-se, então, dizer que é ingênuo quem nega a existência do plano espiritual?

EEA − Totalmente inconsistente. Não se pode negar o que se pode, em qualquer tempo, provar existir. O que se pode dizer é que não se pode definir exatamente o que ocorre, em determinado “momentum” da consciência, diante da massa de evidências de que a mente humana não termina nela mesma, mas que se estende na direção do universo físico, quanto do transpessoal, nos dois sentidos, portanto, das escalas hierárquicas de complexificação da organização holística do universo. Assim sendo, é razoável a dúvida de, em dado instante e em determinado estado alterado de consciência, se alguém trava realmente contato com uma inteligência albergada na dimensão extrafísica de vida ou se manifesta uma parte dela mesma, alojada no próprio inconsciente, um fragmento de sua própria psique; ou ainda, de forma mais correta: qual o percentual de interferência mediúnica, ou seja, de intervenção real de entidades desencarnadas e qual o percentual, por outro lado, de processos psicológicos pessoais do médium, em determinada “manifestação” psíquica.

BTA − Excelente. Mais algo a dizer sobre isso?

EEA − Que, transcendendo a grande massa de incertezas, algumas certezas fundamentais subsistem, como o fato de que tudo é impermanente e que, portanto, morre (fisicamente) e que, além disso, havendo uma relação entre matéria e espírito, energia e pensamento, tanto quanto entre vida e morte, quanto morte que é uma forma de mudança, tanto quanto mudança que é uma forma de morte; que existe, diante de tudo isso, um plano Absoluto, que se contrapõe a essa dimensão de relatividades que se vê em toda parte. O Absoluto pode ser chamado de Deus.

BTA − Mais algo ainda a dizer?

EEA − Que quem se considera muito inteligente para duvidar de tudo, seja de fato inteligente e duvide da própria dúvida. Não se pode confundir dúvida com negação. Negar a realidade de fenômenos não é ser esperto por desconfiar do que acontece: é optar pela forma mais estúpida de certeza, uma forma de fanatismo pseudocientífico (porque se aliena da realidade) − aquela que afasta o indivíduo do campo fundamental de esperança e paz que pode haurir para seu próprio espírito. Que desenvolva a verdadeira dúvida metódica, que procura sempre aprofundar a qualidade de suas convicções, por meio de uma contínua filtragem de materiais obtidos para própria fé.

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
em diálogo com Eugênia-Aspásia (Espírito)
4 de janeiro de 2004