Na moderna civilização ocidental, hoje hegemônica com o movimento irreversível de globalização, cultura essa voltada exageradamente para o técnico, o científico, o material, o físico − e para o sensual e egóico, por consequência − existe uma fixação fortíssima nos ideais de juventude eterna, de pujança orgânica, de beleza perfeita.

Academias de ginástica tornaram-se as catedrais dos dias que correm, e beldades do cinema e da televisão, os novos deuses a serem adorados, enquanto uma massa de homens e mulheres de todas as idades, classes sociais e níveis de instrução aturdem-se, progressivamente, no sentimento de inadequação e inferioridade.

Mulheres lutam para manterem-se magras como manequins vivos e jovens como suas filhas ou suas netas, sem perceberem, amiúde, o patético a que se confiam, sob a tirania da moda ditada por pessoas neuróticas e problemáticas, tentando parecer o que não são, renunciando a manifestar mais sabedoria e virtude, compatíveis com suas funções e responsabilidades, compromissos e objetivos de mulheres mais velhas, no afã de parecerem ninfetas desajeitadas, fora de tempo…

Um paradoxo. Na cultura do crescimento contínuo, quer-se deter a tendência natural de amadurecimento, que deve acompanhar o envelhecimento do corpo: o desenvolvimento e lapidação da alma, que logo se libertará do casulo de carne em que jaz aprisionada, pelo processo inexorável da morte física, rumo à vida espiritual, que condiz com sua natureza essencial.

Não que não se devam encetar iniciativas de prolongamento da longevidade humana, bem como dos padrões de higidez e bem-estar físico (que compõe o bem-estar geral do ser), em todas as fases etárias. Mas que, nesse propósito extremamente saudável, não se confundam tais iniciativas com o intento inexequível e infantil de deter-se o processo de envelhecimento e de declínio natural da vitalidade orgânica, rumo ao decesso biológico.

A velhice é o afloramento da verdadeira vida, para quem, em verdade, compreende os significados mais profundos e genuínos de se estar encarnado, de ser um ser senciente. O natural decréscimo das forças físicas não deve ser entendido como algo deplorável, temível ou trágico. Velhice não é doença, bem reza a boa Medicina. Senilidade precoce, obviamente, deve ser combatida. Mas o envelhecer é parte do processo de se estar vivo, tanto quanto o morrer é o reverso inescapável dos processos vitais, a outra face do fenômeno biológico. Portanto, sendo naturais (a velhice e a morte) não devem ser temidos e combatidos, sob pena de se renunciar ao bom senso e preservar-se uma visão ingênua, imatura do que seja a vida, do que seja estar vivo no corpo.

Quem está suficientemente preparado para a vida, compreende a morte com serenidade e naturalidade. A velhice constitui o desabrochar magnífico da flor que se veio trazer ao mundo. O botão some, para que surja a rosa, que constitui o final da vida da flor e não o seu início. Na sua velhice, é quando mais linda se manifesta a flor, pois é exatamente quando está no seu máximo desabrochar… O fruto verde é inútil e indigesto. Quando amadurece, é macio, doce, palatável. Quando avança além da maturidade, oferta, então, a semente, ao solo receptivo, que fica grávido de novo ciclo de vida, germinando nova plântula, que medrará até a árvore madura, fazendo com que a pequena fruta que apodreceu se multiplique em inúmeros frutos no futuro…

Não tema, amigo, o mecanismo irrefreável da vida, que tem, como contraparte, a velhice e a morte. Cresça como o carvalho, que, quanto mais senil, mais estende galhadas frondosas, oferecendo sombra aos viajores cansados do caminho…; e não como a semente de grama, que hoje é e amanhã se resseca, lançada ao fogo, ou se converte em adubo natural, para as grandes e árvores da vida…

A escolha é sua. O fenômeno do fenecimento vital existe e é inexorável.
Sua perspectiva sobre o que seja ele é que deve ser modificada, para seu próprio bem-estar. Em ambientes mais civilizados, quanto mais culta, sábia, inteligente e evoluída é uma pessoa, mais valoriza ela o que concerne ao espírito, ao intelecto, à razão e menos o que tange aos aspectos físicos, aparentes, da forma de crisálida orgânica, através da qual se manifesta, no mundo material. Prove que é um ser melhor. Desenvolva-se a esse nível de consciência das almas mais amadurecidas, a bem de você mesmo, para que não sofra tanto, com a degradação inevitável de seu corpo e suas engrenagens metabólicas e, assim, possa ganhar com o inescapável, virando o jogo em sua direção, ao reverso de ser derrotado, fragorosamente, pelo inimigo invencível. Torne-o seu aliado, assimile suas forças − que num primeiro exame lhe pareciam contrárias a seus interesses − e, como nas artes marciais, lance-as de volta contra “ele” (o processo de declínio metabólico do corpo), para que cresça e ganhe internamente, enquanto seu corpo gradualmente definha, até que, um dia, quando chegar o derradeiro instante de sua despedida desse mundo, possa estar rutilante de sabedoria, segurança e paz, completamente preparado para mergulhar no mundo da bem-aventurança e da plenitude de Vida Eterna…

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia (Espírito)
05 de outubro de 2003