Corria o ano de 1994. Há poucos meses, eu lançara o programa de TV – até hoje no ar – de divulgação das ideias de Espiritualidade e imortalidade da alma humana.

Desde tenra infância, demonstrei faculdades mediúnicas e paranormais (principalmente precognitivas), mas as evidenciava de forma errática, sem nenhum governo sobre essas manifestações. A partir de 7 de abril de 1988, no entanto, a frequência e a qualidade desses fenômenos se acentuaram significativamente, com o início da relação que entreteço com Eugênia-Aspásia, minha venerável Mestra Espiritual e condutora da Organização-Movimento que surgiu de nossa interação.

Graças ao lançamento de uma atividade pública semanal que alcançava milhares de telespectadores(as) ao vivo, envolvendo assunto tão grave, passou a me afligir a necessidade de entabular, de maneira mais sistemática e segura, diálogo mental com os(as) Orientadores(as) dos Domínios mais elevados de Consciência.

Em certa noite, então, a Instrutora do Plano Sublime sugeriu que me reunisse com um núcleo mais reduzido de pessoas, em torno da mesa em que eu proferia palestras presenciais, apresentando-me um cavalheiro despojado de corpo físico e com expressões de ancianidade saudável, que me solicitou receptividade mediúnica.

Ato contínuo, branda e agradável “eletricidade” percorreu-me o braço direito, do ombro às pontas dos dedos, enquanto, na penumbra, o novo amigo me pediu que “soltasse o membro superior”, quanto me fosse possível – querendo dizer: que eu o deixasse mover meu braço mais diretamente.

Logo em seguida, levou-me a pegar caneta e papel próximos a mim e, como se desenhasse as letras calmamente – o inverso do meu habitual por aqueles dias, quando costumava psicografar em grande velocidade e de modo semimecânico –, dirigiu breve mensagem, embora impressionante pela precisão das informações, a uma das circunstantes, procedente de um estado vizinho.

Algumas das palavras que, naquela reunião-marco, redigi em nome do sacerdote liberto de arcabouço carnal ficaram-me gravadas indelevelmente na memória. Assim começou seu sucinto apanhado de sugestões fraternas:

“Anteontem à tarde, “Fulana”1 recebeu um colega de trabalho que (…)2, e lhe aconteceu…”

O padre Gustavo, como ainda hoje às vezes o chamo, descreveu, em sua carta mediúnica, minúcias (de que não me recordo mais) do que ocorreu no encontro profissional da destinatária e lhe ofereceu suave conselho.

O que tornou inesquecível a experiência foi o quão firme, clara, contínua e objetiva parecia a escrita do Espírito amigo. Deixou-me perplexo a naturalidade com que ele conduziu o processo, tanto quanto ficou estupefata a jovem (com pouco mais de trinta anos) mulher que recebeu a missiva de além-túmulo.

Ainda me lembro da reação da arguta e cética agraciada, que, após havermos aumentado o volume da luz ambiente, repetiu com olhos arregalados, como se estivesse diante de um evento transformador:

– Benjamin, foi isso mesmo que aconteceu! E foi, de fato, anteontem à tarde!…

Sim, sem dúvida: o Mundo Espiritual realmente existe!

A irmã em humanidade perdeu contato comigo – o mais comum: poucos(as) são os(as) que, no decorrer dos anos, perseveram no devotamento a atividades de cunho espiritual.

Todavia, meu tão estimado amigo-irmão da outra Dimensão, a Verdadeira Vida, prossegue me auxiliando nas tarefas de intermediário entre nós que jazemos presos(as) a corpos materiais e aqueles(as) que se encontram deslindados(as) de aparelhos biológicos e, portanto, desembaraçados(as) das imensas limitações sensoriais e cognitivas que esses veículos orgânicos impõem.

Com o tempo, vim a saber, pela própria Eugênia-Aspásia, que ela havia designado o querido ex-sacerdote católico (atualmente ele não se identifica com religiões convencionais) para a incumbência de selecionar os(as) destinatários(as) das mensagens de cunho pessoal que são transmitidas através de minhas aptidões mediúnicas, quanto de definir outros fatores concernentes a essas missivas que interconectam os(as) vivos(as) na esfera de matéria densa e os(as) muito mais vivos(as) fora dela, como a frequência e a extensão dos comunicados, ou a quantidade e a natureza dos detalhamentos havidos.

Segundo Eugênia-Aspásia, entre 84 e 86 variáveis são avaliadas, caso a caso – o que sempre me provoca espanto. Só tenho acesso a pouco mais de 10 delas, a maior parte não revelada a ninguém encarnado(a).

Aquela que um dia foi Aspásia de Mileto realça, inalteravelmente, que o critério em filtrar os(as) beneficiários(as) dessas preciosas dádivas é tão grande, porque não compõe minha função, na presente reencarnação, dedicar-me a tal gênero de comunicações, que basicamente são autorizadas, pela Espiritualidade esclarecedora, em deferência a uma preocupação minha: de garantir que não esteja eu sendo ludibriado por meu próprio inconsciente, ainda que, em bons momentos de transe, o Lado Espiritual da Vida me pareça mais real que Sua face material.

Para quem se estranhe com essas afirmações, repasse rapidamente, em suas lembranças, de quantos casos esdrúxulos teve notícia, seja de fanatismo, de superstição ou mesmo de franco charlatanismo, relacionados à delicada, melindrosa e tão sagrada tarefa de canalização interdimensional.

Temendo corromper as ideias provenientes das Faixas mais altas de Consciência, pretendia evitar ao menos os erros mais grosseiros em minhas interpretações psíquicas, já que, a rigor, a completa correção nessa ordem de filtragem mística é impossível, como, de ordinário, em quaisquer ações humanas, toldadas por nossa onipresente falibilidade.

Em adição, sempre tive a convicção de que minhas certezas pessoais não seriam, nem para mim mesmo, distinguíveis dos desatinos de alguém que padeça distúrbios mentais graves e se permita engabelar por alucinações auditivas e/ou visuais. Por isso, a busca por recursos mais comprobatórios do fenômeno mediúnico.

Há poucos dias, Wagner (de Aguiar), meu esposo, resolveu delinear, utilizando arte com IA (inteligência artificial), a representação de um ancião sábio escrevendo. E, ao me mostrar o resultado – a imagem que ilustra esta publicação –, qual não foi minha surpresa! A semelhança com o vulto respeitável de Gustavo Henrique era imensa.

Alguns(umas) poderiam me perguntar por que não recebo mais romances ou contos do adorável professor – vários desses textos, inclusive, excluí do acervo de nosso site. Em resposta à indagação, registro apenas um princípio de sabedoria universal…

Padre Gustavo sabe que sou significativamente severo comigo mesmo e tem por hábito compensar-me dessa tendência autocondenatória. Eis por que prefiro – e graças a Deus compõe meu dever precípuo – conversar e trabalhar com os Espíritos Eugênia-Aspásia e Matheus-Anacleto, mais contidos nesse particular (risos sem graça) e mais prontos a me assinalarem aspectos a corrigir, em meu mundo interior ou nas atividades públicas que com eles executo, em Nome dos Cristos de Deus.

Benjamin Teixeira de Aguiar
LaGrange, Nova York, EUA
2 de maio de 2023

1 e 2. As informações foram supressas para preservar a privacidade da senhora encarnada.