Cuidado com os vícios das emoções, ainda que, em princípio, pareçam generosas e construtivas. A mãe muito zelosa pode se converter em força anestesiante do crescimento dos filhos. O pai disciplinador pode se transfundir em tirano doméstico. O religioso devotado pode se converter em fanático perigoso e invasivo, se não respeitar as crenças alheias e esquecer suas responsabilidades com o mundo em que vive e as pessoas com quem convive. O sujeito intempestivo e brigão pode estar desperdiçando o melhor de suas energias agressivas, que muito bem poderiam estar sendo aplicadas na disposição ao trabalho, em vez de estarem criando chances para o azar de comprometimentos sérios, como consequências de seus desatinos.

Se você se percebeu em erro, não exagere, martirizando-se como se fosse um revel imperdoável. Cuidado para não desperdiçar a chance do recomeço e da regeneração, ao transformar arrependimento construtivo em remorso destrutivo. Sinta-se responsável pelo que fez, e não culpado. Em outras palavras: assuma o ato indevido (ao menos para si mesmo), proponha-se a mudar, envidando todos os esforços no sentido de não mais incorrer na mesma falta, mas não passe o restante de seus dias a consumir energias em se sentir um ser imprestável. Isso é inútil e, mormente: contraproducente.

Sendo assim, ponha um freio agora, em seus delírios emocionais, sejam de amor, que se converte em paixão (ainda que a dos pais superprotetores), sejam do cuidado excessivo no trabalho, que se converte em compulsão neutralizante da criatividade, da naturalidade e da alegria de viver, sejam no campo da percepção das próprias faltas, desviando forças preciosas do caminho de ressarcimento por antigos erros, para defenestrá-las irresponsavelmente, no poço sem fundo das queixas improfícuas.

Tenha, assim, amigo, seu momento de reflexão e mesmo de autorreprimenda. Mas não ultrapasse o estrito limite do necessário, para enxergar o ponto da falta e conseguir arregimentar forças e recursos   para   envidar providências no sentido de reparar a falta cometida.

Hoje, pode você estar em pranto por ter-se visto em queda. Mas, logo houver chorado por alguns minutos, trate de lavar o rosto e seguir trabalhando, para que, inclusive, compense-se pelos desmandos ou deslizes em que tenha resvalado.

Emoções exacerbadas constituem um transe, e, como tal, uma espécie de surto, uma alucinação de que dificilmente se dá conta estar sofrendo. Não se deixe envenenar. Desintoxique-se. Refresque as emoções e desvie o foco de sua atenção. Seja prudente e responsável, racional e justo, mas nunca, à guisa de ser honesto consigo e com os outros, torne-se desequilibrado, descompensado e alucinado.

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia (Espírito)
13 de janeiro de 2004