Trataram-no como um tolo manobrável. Não perceberam que não poderia ser tolo, realizando o que faz. Não notam, lamentavelmente, que está sendo apenas generoso e que pode, a qualquer momento, desistir da cortesia e, sumariamente, afastar-se deles.

Enquanto imaginam enxergar sutilezas em você, é você quem os flagra em atitudes infantis e francamente insensatas, sem notar quão óbvios são para você, no que nem de longe sonham existir em si ou em seu comportamento.

Imaturos, supõem-no facilmente controlável. Personalidade complexa como é, interpretam-no como jogo fácil, previsível… E, por isso, assustam-se, volta e meia, sem compreender suas atitudes, que lhe parecem disparatadas, já que seus motivos estão bem acima do que podem apreender.

Aquele rapaz, dado a brincar de joguinhos eletrônicos até hoje, cheio de ideias balofas e narcisismo improdutivo, supõe-se com condições de avaliá-lo e julgá-lo, com olhar de superioridade misericordiosa, quando nem sequer arranhou, de longe que fosse, a dimensão de suas percepções ou de sua história de vida, desta e de outras inúmeras reencarnações que ele não teve. E você faz de conta que é ele quem o perdoa e o tolera, em vez do contrário… Deixe passar! Sua atitude compreensiva, permitindo-se passar por bobo e por alguém que recebeu e não que concedeu o perdão é extremamente louvável e não louca, como, neste momento de tristeza e cansaço emocional, se lhe afigura.

Aquela dona de casa, dada a oferecer palpites sobre o que desconhece, observa-o com desdém, como se lhe adivinhasse personalidade infantil e dependente, quando é você o alicerce psicológico de muitas almas, processando crises e solucionando problemas inconcebíveis para ela. Deixe passar! Você está agindo, com ela também, muito nobremente!

Releve, porém, até a medida do possível. É seu dever, primeiramente, perdoar e amar, já que está à frente, no carreiro evolutivo. Se, entretanto, continuarem renitentes na conduta desatinada e notar que estão perturbando as funções que estão sob sua responsabilidade, simplesmente os afaste de si e dos patrimônios que Deus lhe confiou, sem remorsos: a obra não é sua, deve zelar por ela, com o rigor de um administrador de empresas, e não como a dona de uma casa de baixa moral, onde qualquer um entra, na hora que bem entende, sem dar satisfações a quem quer que seja. O perdão não pode contradizer o espírito de responsabilidade e bom senso, na gerência do que Deus lhe delegou zelar.

A esposa, portanto, pode reclamar pela perda de horas de intimidade com você, ao serviço voluntário: deveria acompanhá-lo. Se não quiser estar com você, partilhando-lhe o ideal, e se estiver, de modo intransponível, bloqueando-o para a realização das tarefas atinentes à sua vocação espiritual, não é a consorte para você. Divorcie-se dela, mas não se divorcie de sua consciência.

O patrão lhe pede hora extra de serviço profissional. Prefira renunciar à promoção, se ela implicar a suspensão do trabalho filantrópico a que se dedica. Seu exemplo, quiçá, poderá sensibilizá-lo a questões que transcendam o ganho material imediato. Se, todavia, tal atitude de priorizar o essencial põe em risco o seu emprego, não vacile em procurar outro, imediatamente, que lhe permita viver sua espiritualidade, não se prostituindo, assim, por alguns míseros trocados a mais. E ainda que fossem fortunas envolvidas… que preço tem sua paz? Tem preço? Então você é uma prostituta cara: nada além disso.

O filho querido gostaria de tê-lo por mais algumas horas, partilhando com ele momentos de alegria, no joguinho de computador, mas poderá tê-lo mais sábio e melhor exemplo de vida, se o vir resistir a tal convite, e, após uma certa quota de tempo na participação do entretenimento, em seguida perceba-o mergulhar em leitura instrutiva. Se ele o odiar por isso, é melhor que sinta raiva agora, para que aprenda a ser menos egoísta e cresça como um homem de bem, com aspirações mais complexas e elevadas na vida que viver esperando, a cada semana, pelos meros divertimentos de final de semana. Há pais que só brincam com seus filhos, sem lhes ensinar o lado sério e nobre da existência, e, assim, tal como eles são, perpetuam seus rebentos na condição psicológica de eternos moleques de videogame e brincadeiras diversas, como tantos, literal ou metaforicamente, seguem vida afora. As consequências nefastas de se seguir tal filosofia de vida são dispensáveis de enumeração.

Cuidado com as aparentes impossibilidades para a realização do trabalho no bem. Deus quer, primeiramente, que você seja você, na mais alta expressão de si, para que então possa atender ao mundo e suas solicitações rasteiras e sem importância (ao menos para seus reais interesses de paz e felicidade). O primeiro compromisso, o primeiro dever, a primeira lealdade são para com a própria consciência. Se isso não for considerado: o essencial, mais nada estará no eixo, na sua existência, e você amargará um insucesso, atrás de outro, uma desgraça enfileirada a outra, até a total consunção no desespero e na morte!…

E se algo do que lhe disse pareceu chocante, veja o que disse o Mestre Jesus, que nunca estava preocupado em atender às tricas e hipocrisias dos religiosos de seu tempo:

“E todo aquele que, por Minha Causa – entenda-se o ideal, a supraconsciência – deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa, receberá o cêntuplo de tanto e ainda herdará a vida eterna.” (*2)

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Gustavo Henrique (Espírito)
11 de setembro de 2003

(*1) Fantástico “puxão de orelhas” o nobre e reto “Pe.” Gustavo faz nesta mensagem forte, incisiva, de lógica irretorquível. Interessante, por sinal, notar as diferenças curiosas de personalidade, reveladas na forma de ser “duro” de Gustavo Henrique, em cotejo com os textos de Roberto no mesmo tom. Enquanto Roberto, apesar de sua rutilante inteligência, usa um linguajar, quanto um estilo de raciocínio mundanos e quase rudes, o “Pe. Gustavo” age com finesse e contundência simultaneamente, apresentando assertivas diretas e amaras, sem perder a elegância e a polidez em nenhum momento. No meu entender, porém, Gustavo Henrique, por falar com profundidade e coração, no instante de repreender, consegue mexer muito mais conosco do que Roberto. Cada um, entretanto, avalia da perspectiva que supuser melhor, e, sem dúvida, no que tange ao alcance das massas, principalmente dos corações mais empedernidos e das inteligências mais impermeáveis à espiritualidade, Roberto é um gênio incomparável.

(*2) Mateus, 19:20.

(Notas do Médium).