Equipe do Instituto Salto Quântico – Benjamin, é comum, principalmente no Brasil, fazerem-se comparações entre Chico Xavier e outros médiuns. O que você diria se alguém lhe provocasse esse gênero de avaliação? O que há de semelhante entre você e Chico?

Benjamin Teixeira de Aguiar – Da condição de um admirador que se sente – para utilizar a expressão mais apropriada – um devoto de Chico Xavier, como também do Espírito Eugênia-Aspásia, diria, em princípio, que não há qualquer termo de comparação, em nenhum sentido, entre minha pessoa e a alma santificada do médium de Emmanuel.

As virtudes de Francisco de Paula Cândido (nome de nascimento) remetiam-nos facilmente às mais emblemáticas figuras da história da cristandade, no quesito de pureza de sentimentos, nobreza de atitudes, capacidade de abnegar-se e de servir infatigavelmente ao próximo, debaixo de condições tremendamente sacrificiais.

Passaria um tempo indeterminado elencando razões para o que estou asseverando. Mas vou destacar somente um pormenor, que concerne à função pela qual ele se fez mais conhecido: a mediunidade. Além de ser uma ponte luminífera entre os dois domínios de vida, o físico e o extrafísico, Chico devassava facilmente os pensamentos dos(as) circunstantes, o que é exaustivamente documentado por quem conviveu com ele.

Eu próprio, que só o vi, fisicamente, em apenas duas ocasiões breves, quando ambos estávamos encarnados, nesta existência, posso testemunhar que isso aconteceu comigo. Chico nos ouvia e respondia o que nos ia n’alma, mesmo sem assistência de orientadores(as) espirituais.

Pois bem: alguém com tão extraordinária sensibilidade necessariamente também sente emoções, maus pensamentos e toda ordem de horrores que inclusive criaturas ditas decentes cogitam e amiúde ocultam até de si próprias. Como, então, permanecia ele sorridente e solícito continuamente, a despeito de notar os dejetos mentais de multidões que o visitavam, ano sobre ano, no correr de sete décadas e meia de atividade mediúnica ininterrupta? Só um grande coração, o coração de um anjo seria capaz disso.

Vejam que não lhe fiz referência aos dotes mediúnicos propriamente, porque Chico não era apenas médium, mas um gênio da mediunidade, assim como há gênios do raciocínio lógico-matemático, quais Newton e Einstein, ou da habilidade psicomotora, a exemplo de Nureyev e Pelé, para citar dois extremos do espectro conhecido de tipos de inteligência que o ser humano pode apresentar.

As funções paranormais constituem uma forma de inteligência, uma capacidade de perceber informações, com acuidade, e coordená-las, filtrá-las, traduzi-las, de uma personalidade a outra, de uma dimensão a outra da realidade. E essa aptidão é embrionária na humanidade da Terra de nossos dias. Chico Xavier era, perdoem-me a metáfora grosseira, uma psique dotada de um telescópio colossal, num mundo de pessoas portadoras de deficiência visual.

EISQ – Compreendemos que você seja um admirador fervoroso de Chico, Benjamin, e sabemos que suas afirmações são sumamente honestas. Então, modificaremos a pergunta. O que você diria sobre sua própria mediunidade, em considerando esse padrão ainda embrionário de evolução das faculdades mediúnicas em nosso planeta?

BTA – A questão é que vocês começaram por mencionar o vulto de Chico, e não me autorizo a prosseguir sem lhe fazer referência – risos carinhosos. Colocando em palavras, num arremedo de analogia: se, para o globo da atualidade, Chico era um astrônomo munido de um radiotelescópio ultrapotente, em meio a indivíduos privados do aparelho visual ou quase completamente desprovidos de visão, eu seria alguém que carrega consigo uma luneta apurada, embora portátil e simples, muito aquém da grandeza prodigiosa de um “observatório astronômico”, como se afigurava a mediunidade dele – risos sem graça. Espero ter respondido à indagação, a contento.

EISQ – E o que você diria a respeito do Espírito Eugênia-Aspásia e de sua relação com ela?

BTA – Bem, agora mudamos o contexto completamente. Eugênia-Aspásia é uma das fundadoras da civilização ocidental. Para fazer alusão a apenas uma de Suas célebres reencarnações, Ela foi Aspásia de Mileto, que ainda hoje é muito pouco reconhecida como Mestra de Sócrates e de Péricles. Ela, sim, está à altura de Chico Xavier. Por sinal, permito-me a extravagância de dizê-l’A superior ao ínclito e cândido médium. É como se tivéssemos, numa mesma pessoa, a santidade e a mediunidade de Chico e a sabedoria de todos(as) os seus guias espirituais.

Eugênia-Aspásia é uma Emissária Direta dos Cristos de Deus, incluindo Nosso Mestre e Senhor Jesus. Os fenômenos que A endossam como uma Embaixadora Celeste não nos deixam espaço a dúvidas quanto à Sua envergadura evolutiva, que foge completamente à compreensão vulgar da cultura atual (vide: mariacristo.com.br/endossos). E essa Alma Excelsa, sabe lá Deus por quê, escolheu-me para representá-l’A na superfície do orbe, durante minha presente imersão no campo de matéria densa.

Tenho comigo que o principal motivo para Eugênia e Seus(Suas) Amigos(as) do Plano Sublime de Consciência haverem tomado essa decisão é justamente o fato de eu possuir habilidades intelectuais comuns e não portar qualquer virtude especial. Dessarte, as pessoas podem sentir empatia ao interagirem comigo, sendo estimuladas na busca de se tornarem melhores cristãs ou, pelo menos, de estabelecerem um contato mais sério e consistente com a própria espiritualidade.

Quando se observava Chico Xavier, era óbvio, para quem tivesse um mínimo de juízo e autocrítica, que se tratava de um ser superior. Graças a Deus, posso assegurar que não sou santo, nem estou no caminho de me tornar um iluminado. Sinto-me decente e focado num Ideal Sagrado. Mas apenas isso. Logo, numa interação comigo, não há cabimento para aquela desculpa esfarrapada que tão comumente se disparava, perante o mineiro ilustre: “Ah, mas Chico é um Ser de Luz… Quem sou eu para me comparar com ele…” E, com essa justificativa vocalizada sem lastro moral nenhum, fugia-se ao cumprimento do próprio dever, normalmente em situações comezinhas de fraternidade, que nada tinham a ver sequer com funções mediúnicas.

EISQ – Você sofreu traumas de infância em todas as áreas de abuso que uma criança pode vivenciar, mas vive para esclarecer mentes e confortar corações. Abandonou um curso universitário de prestígio (o de Direito) para se dedicar a um Propósito que, em vez de lhe trazer destaque social e segurança material, despertaria suspeição em torno de sua pessoa e geraria até insegurança no capítulo da subsistência. Assumiu-se homossexual, no ápice de sua “carreira” como orientador espiritual, no já longínquo 2008, enquanto, ainda hoje, tanta gente nos meios religiosos e fora deles não se assume de maneira alguma. Tendo se desligado de duas religiões formalmente organizadas, defende todas as causas minoritárias, demonstra cultura e inteligência invulgares, que lhe permitem trafegar por várias disciplinas e, de quebra, lhe possibilitam canalizar, em suas próprias palavras, uma das fundadoras da civilização ocidental… E ainda assim se julga normal?!

BTA – Fico tenso com seus argumentos, porque não quero parecer menos transparente do que estou sendo. Reconheço que estamos numa época ainda deficiente da evolução humana em nosso planeta. E também admito que sou um espírito mais velho que a média global. No entanto, nada além disso. Mais velho. Um monitor-canal dos(as) verdadeiros(as) Mestres(as), a começar da própria Eugênia-Aspásia.

O desenlace de Chico Xavier não consistiu tão só na perda do líder da doutrina espírita – ele transcendia barreiras religiosas. Creio que algo bem mais sério ocorreu: com a partida dele, em 2002, apenas cinco anos depois de Madre Tereza de Calcutá igualmente voltar à Pátria Espiritual, encerrou-se a era dos(as) santos(as) sobre a Terra, um ciclo evolucional foi finalizado para essa comunidade humana.

Com a descida do Cristo-Verbo, Jesus de Nazaré, aos proscênios biológicos, houve uma cascata de reencarnações luminosas, de modo que aportaram na crosta terrena consciências avançadíssimas, tanto em sabedoria quanto principalmente em sentimentos. E esse fluxo de eminentes espíritos na faixa física de vida foi decrescendo, no correr dos séculos, à medida que atingíamos uma certa maturidade psicológica coletiva, digamos assim.

Hoje, como individualidade grupal, chegamos, alegoricamente falando, à juventude adulta do espírito, recém-egressos(as) da adolescência psicológica. Dispensamos tutores(as) – as tais almas santas ou alcandoradas –, por já havermos conquistado uma espécie de maioridade evolutiva. Todavia… é lamentável notar quanto ainda há de presunção geminada a inexperiência, de falta de perspectiva filosófica e espiritual da condição humana e da existência como um todo, de mediocridade moral e obtusidade no âmbito da empatia…

No passado, vivemos períodos atrozes de obscurantismo. A presença dos(as) Luminares então nos ajudava a não nos precipitar de vez no abismo. Atualmente, porém… todo mundo se sente à vontade para opinar sobre tudo, com a leviandade de quem conhece quase nada. Absurdidades tremendas grassam, livremente, no seio de cultos fanáticos, eivados de conspiracionismo retrógrado e mesmo de fundamentalismo religioso, enquanto o ateísmo parece se apresentar como novidade de uma “elite atualizada”, qual se não houvesse figuras ateias em todos os séculos anteriores, desde que há registro sério a respeito.

Na Grécia Antiga, por exemplo, os(as) ateus(eias) desfilavam nos debates públicos e nas escolas de filosofia, sem constrangimentos, zombando dos mitos de sua cultura, tratando-os como narrativas literais, supondo divisar, nesse desdém sem bases profundas, não só uma prova de incultura das classes populares, mas uma evidência da inexistência de uma Origem Inteligente para Tudo.

Não é à toa que a Mestra de Sócrates tenha solicitado a oportunidade de voltar a falar com a esfera material de consciência, ainda que indiretamente, por meu intermédio. É até onde me sinto à vontade para discorrer sobre o assunto. Espero ter sido satisfatório.

E, antes que me perguntem, antecipo: sim, voltará a haver, pela Lei da Evolução, em escala de massa, uma nova Era de santos(as), iluminados(as) e mesmo de Cristos. Contudo, teremos que progredir nesse sentido, laboriosa e paulatinamente, por conta própria, a fim de nos fazermos, pelo desenvolvimento coletivo alcançado, espíritos emancipados de nossos(as) Preceptores(as) Espirituais.

Benjamin Teixeira de Aguiar
em entrevista concedida à Equipe do Instituto Salto Quântico
LaGrange, Nova York, EUA
25 de junho de 2021